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Notas para livros impossíveis: o que vejo da minha janela

1. Dizia Alfonso Reyes que a clareza é cortesia e gesto de compromisso democrático por parte do ensaísta. Acrescentava Reyes que a sua contribuição seria sempre a partir do que ele mais conhecia e amava, a literatura. São coisas que não me saem da mente enquanto escrevo.

2. Dizia Paulo Freire que enquanto o reacionário quer domesticar o presente para repetir o passado no futuro, o progressista reconhecia no futuro a oportunidade para um mundo melhor que o passado.

3. A partir dos anos 80, os reacionários complicaram as coisas adotando uma retórica revolucionária. Thatcher e Reagan propunham-se a destruir uma imaginária hegemonia estatista/socialista para voltar a um passado glorioso: imperial na Inglaterra e revolucionário nos EEUU.

4. A retórica neo-liberal deslizou do pragmatismo conformista de FHC para o delírio Bolsonarista. Agora é preciso destruir "tudo isso o que está aí": dinamitar o estado e a doutrinação da cultura socialista/gayzista.

5. Com isso os progressistas no Brasil foram cada vez mais empurrados para posições que enfatizam a preservação das instituições e das conquistas passadas e a resistência à demolição neo-liberal. Preservação do passado e resistência ao futuro são marcas retóricas do discurso reacionário.

6. Os reacionários sonham com o futuro. Uns sonham com um novo AI-5. Outros querem até abolir a revolução francesa. Outros ainda preferem pelo visto uma nova teocracia.

7. O medo do futuro mudou de endereço. Os progressistas têm pesadelos sobre o futuro e abraçam sonhos impossíveis de restauração do lulismo da primeira década do século XXI.

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