No seu diário, publicado com o nome de Materia escrita, o artista plástico mexicano Gabriel Orozco faz a seguinte reflexão sobre o que poderíamos chamar de "arte da experiência":
"Caminhar e observar: a fotografia é apenas o registro dessa arte, a arte da presença. Caminhar, ver e apresentar-se. Uma coisa se apresenta a nós e nós a podemos ver. Isso é uma arte. Isso uma fotografia registra (sempre mal). A arte de estar em um lugar e perceber o que está acontecendo. A arte de descobrir. A arte de esperar que as coisas se revelem. De esperar que as coisas se revelem. De esperar que o tempo se detenha. O dramático é isso, não a fotografia".
O trecho está datado de 15 de outubro de 1992. Bem antes da massificação da internet e das redes sociais. Meus filhos andam "conectados" quase que o dia inteiro - as aspas porque estão consequentemente desconectados ou semi-conectados a vida que acontece na frente deles. A viagem do sol pelo jardim, as plantas ainda novinhas no começo da primavera, os passarinhos que vem comer sementes na varanda, o vento, o céu, as pedrinhas tomando sol na calçada, os quadros da mãe espalhados pela casa.
Não estou aqui advogando por um desligamento da internet - esse é, dos gêneros que as redes sociais criaram, o mais paradoxal de todos. Mas percebo em muitas pessoas uma dificuldade geral em concentrar-se no momento, na hora e no lugar onde estão com o seu corpo presente.
A ilustração aí em cima é um registro fotográfico de "Turista Maluco", instalação que Gabriel Orozco fez em 1991 numa pós-feira em Cachoeira, na Bahia. O título vem de uns dois ou três bebuns de fim de feira que, ao ver Orozco arrumando laranjas passadas em cima dos tabuleiros da feira começaram a chamá-lo assim. Ironia das ironias, só sabemos um pouco melhor sobre essa instalação por causa das fotografias que o próprio Orozco tirou.
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