1. Para quem vive o Fla-Flu diário lá no tuíto: o buraco, meus amigos, é muitíssimo mais embaixo. Para quem não conhece: sem uma boa dose de objetividade e cuidado por parte do usuário uma excelente forma de se informar pode acabar reduzida a um bate-boca interminável e inútil.
2. Desejar e celebrar porradas da polícia, chuvas de gás de pimenta, prisões arbitrárias, estupros na cela da prisão, espancamentos e tiros "na cabecinha" dos adversários vai além de defender o uso da violência como arma política. É descer lá nas profundezas de onde veio o atual presidente da república no Brasil. É ser, no século XXI, uma expressão típica do sadismo que a sociedade escravista nos legou e que a ditadura nos relegou. Não importa o alvo. Ou melhor, o alvo importa porque ajuda a entender melhor as obsessões do autoritarismo brasileiro.
3. As rivalidades no futebol servem exatamente para isso: exacerbar seus desejos obscuros de violência num ambiente de ritual simbólico intenso. Claro que há quem ache que tudo tem que ser literal e que torcedores de rivais têm que se atracar. São esses que ameaçam de morte, por exemplo, jogadores de futebol. Além do mais as divisões do futebol são, no fundo, completamente aleatórias. Há mendigos e milionários, reacionários e revolucionários, torturadores e almas santas vestindo a mesma camisa de futebol, habitando as torcidas de cada um dos grandes times de futebol brasileiro.
4. Outra das formas mais típicas de imbecilidade é criar falsas equivalências para fazer pose de "contundente". Dizer que FHC e Bolsonaro são a mesma coisa, que Hillary Clinton e Donald Trump eram a mesma coisa, que os EUA e a Alemanha de Hitler eram a mesma coisa é ser simultaneamente agressivo e imbecil. Os tais sujeitos da rede social que amam essas "contundências" não passam de pavões da imbecilidade. E se a vaidade, como dizia Tomás de Kempis, é a mãe de todos os pecados, o orgulho da brutalidade [retórica ou literal] é o pai de todos os fascismos.
5. Isso não é defender o "dois-ladismo"; muito antes pelo contrário. Eu tenho seríssimas restrições, por exemplo, a FHC ou a Hillary Clinton. Acontece que tem muita gente parecida [sem saber] com a infame "escolha difícil" do Estado de S. Paulo no segundo turno de 2018, dizendo que Ciro Gomes e Bolsonaro são a mesma coisa. Achar que votar no Ciro Gomes é um equívoco é uma coisa; ter dúvidas se ele é melhor que Bolsonaro é uma imbecilidade.
6. Agora, o cúmulo do cúmulo mesmo é defender o indefensável dizendo que quando o "outro lado" fez a mesma coisa, "ninguém se indignou". É como se alguém se indignasse porque você pisou com o sapato num bolo que acabou de sair do forno e se defendesse dizendo: "ah, mas quando fulano sentou com a calça suja no pudim ninguém se indignou, né?" É transformar em argumento uma briga de meninos no jardim de infância. Esse cúmulo do cúmulo acontece pelo menos uma vez por semana no tuíto.
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