O contraste entre a foto do velho Machado de Assis em 1905 e o retrato feito com base nela pelo pintor Henrique Bernardelli é incontestável. O homem da foto e o retrato pintado têm cores diferentes; um é negro e o outro, nem sequer mulato. Bernardelli, assim como Nabuco no seu famoso comentário sobre o homem da Grécia que Machado de Assis seria e no quão desmerecedor seria chamar atenção para a sua condição racial, considerava esse embranquecimento talvez como uma homenagem a um homem que, admirado e até venerado àquela altura, deveria estar supostamente acima da sua origem racial. O racismo brasileiro tem muitas faces e essa é apenas uma delas. Talvez seja a mais insidiosa, porque é revestida de supostas boas intenções. Deveríamos estar discutindo-o seriamente porque é fácil repudiar a face grotesca do racismo, mas essa sua face pretensamente benévola e gentil é igualmente destrutora.
O Brasil que reconhecemos culturalmente hoje simplesmente não existiria sem Gonçalves Dias, Machado de Assis, Cruz e Sousa, Lima Barreto e Mário de Andrade.
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