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O que o barranco destruiu com a ajuda de governos omissos

Chamar de fatalidade ou de acidente a queda do barranco em Ouro Preto neste janeiro é muito enganoso. O barranco que destruiu o solar Baeta Neves estava condenado há pelo menos dez anos e ninguém fez nada para contê-lo. Só interditaram a ocupação do imóvel - e já é extraordinário que o tenham feito - e sentaram esperando pelo que acabou acontecendo. 

O Brasil não tem desastres naturais como terremotos, tsunamis ou furacões como tantos outros lugares do mundo. Essas chuvas intensas são o normal em Minas Gerais todos os anos do período de dezembro e janeiro. O patrimônio de Ouro Preto sofreu essa perda por culpa de omissão dos governos. Não sei quem tem mais culpa, se o municipal, o estadual ou o federal. Espero que algum jornalista investigue, mas não sei se vai interessar a algum jornal apontar responsabilidades. Talvez baste a audiência com a filmagem impressionante do barranco devorando as casas em tempo real. 

As fotos são do acervo pessoal do meu irmão Pedro da Luz Moreira.  




 

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Tenho me trabalhado para não sofrer mais com essas perdas. Há muito tempo, eu era como o Jovem das Noites Brancas: tinha grande afeição pelas construções e até pelas árvores à beira da estrada. Mas tudo está passando e é melhor ser alegre que ser triste. Questão de sobrevivência.
Às vezes eu penso que nós, que estamos vivos hoje, devemos estar experimentando sensações semelhantes àquelas que foram experimentadas por quem presenciou a derrocada do Império Romano.
Eu fiquei tocado demais quando meu irmão me passou essas fotos. O tal vídeo, acompanhado da notícia de que o casarão estava interditado, não dá uma ideia do que realmente se perdeu. Acho que você está certa, Tata. Estamos sendo testemunhas de um fim de mundo. Estou lendo um livro muito legal de um escritor mexicano que, em 1966, compilou documentos [escritos na maioria das vezes em Nahua, a língua dos Mexicas] desde um pouco antes da chegada dos espanhóis. A sensação que eu tenho é de que estamos vivendo uma coisa parecida. Montezuma fica na dúvida sobre o que fazer com esses seres barbudos e branquelos que andam em cima de veados gigantes, os espanhóis. Parto para guerra ou "compro" a amizade deles com presentes? E eu vou lendo e pensando que nenhuma das duas opções tinha a menor chance de dar certo...

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