em que me deitei acordado
no vagão mal iluminado,
num terno êxtase de agitação
a maçã do meu rosto queimando
o frio impecável da fronha
e o coração batendo com os pistões
da locomotiva que puxava o trem
e me levava noite afora
para longe de Belo Horizonte
para longe da minha infância
para longe da calma caiada
da casa da minha mãe,
para o país desconhecido da vida adulta
no vagão mal iluminado,
num terno êxtase de agitação
a maçã do meu rosto queimando
o frio impecável da fronha
e o coração batendo com os pistões
da locomotiva que puxava o trem
e me levava noite afora
para longe de Belo Horizonte
para longe da minha infância
para longe da calma caiada
da casa da minha mãe,
para o país desconhecido da vida adulta
para nunca mais voltar.
Eu imaginava minha mãe
passando a vista cansada
em tudo o que eu deixei para trás
no quarto que não era mais meu
numa caixa de papelão pardo
dormindo, cobrindo-se de pó
dos ouvidos o ressonar de veludo do vento,
dos olhos o amarelado pesado da lua prenha,
da boca o hálito da fome,
das narinas o cheiro do couro curtido
no assento do trem,
do coração o rugido sincopado do trem.
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