Em um ensaio do livro Bee Reaved [que eu li março do ano passado], a escritora Dodie Bellamy faz uma advertência importante para qualquer escritor brasileiro no século XXI:
"Se eu fingir que o que eu escrevo se posiciona fora do vexame que é os Estados Unidos, que o meu ego-id-superego não é impulsionado por esse vexame, eu não estou apenas mentindo para os meus leitores, eu estou mentindo para mim mesmo." [19-20]
As redes sociais exercem uma pressão constante para que nos coloquemos nesse lugar supostamente superior, além e portanto fora, daquilo que criticamos. Isso acontece porque as redes sociais nos requisitam a fazer o papel de juízes de tudo e de todos, necessariamente gostando ou desgostando de tudo. Essa postura narcisista em si mesma já é muito ruim para a inteligência de qualquer pessoa, mas é particularmente ruim para um escritor. No mínimo deveríamos, por exemplo, ao fazer análises sobre o que é ou deixa ser o Brasil, usar a primeira pessoa do plural. Nossas faltas, nossas falhas, nossas limitações, nossos vexames, sempre.
Comments