Num jornal vejo uma "notícia" sobre uma celebridade que posta numa rede social fotos do seu cachorro de estimação morrendo no seu colo. Tenho um instintivo sentimento de asco. Depois penso em como usar o amor para aparecer online e mendigar cliques nas redes sociais é algo bem comum e efetivo. O que aconteceu é que a morte é um momento extremo e fica transparente a exploração da vida pessoal dos outros em nome de fama e, possivelmente, dinheiro. Parece algo como vender roupas ou "fazer contatos" no meio do enterro do seu melhor amigo.
Essa "notícia", como expliquei, é uma versão grotesca de algo bastante comum nas redes sociais. O incomodo voltou com força hoje na minha bolha com a morte de Heloísa Teixeira (que publicou grande parte da obra com o nome de Heloísa Buarque de Holanda e era filha de Afrânio Coutinho). Multiplicam-se em vários perfis "homenagens" que, na verdade, buscam ostentar intimidade com uma pessoa famosa com o mesmo objetivo com que outros ostentam carros ou viagens caras: para alavancar popularidade e prestígio [um estranho fim em si mesmo nas redes sociais para aqueles que não ganham um tostão com isso].
Vejam como exemplo paradigmático a foto abaixo:
O texto que acompanha a imagem se derrama em elogios a "Helô" (o uso do apelido aqui não tanto como gesto de ternura mas como sinal ostensivo de que havia intimidade entre o autor e a defunta), mas a imagem diz muito mais: lá está Heloísa Teixeira desfocada no fundo da foto, reduzida a um ícone de si mesma, olhando e ouvindo com admiração e satisfação atenta o discurso do supostamente humilde homenageador.
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