Dois mineiros, um pernambucano e um carioca com fortes raízes cariocas, todos muito jovens, se reuniram no Rio de Janeiro em 1973 para gravar um disco que quase não foi divulgado e era impossível de se encontrar antes da era digital/internética. Sem apoio da gravadora para fazer quatro discos separados, a ideia era juntar forças num disco dividido em quatro. Aí nesse disco mal-conhecido gravou-se a primeira versão de "Manuel, o audaz" de Toninho Horta e Fernando Brant e "Ponta Negra" de Danilo Caymmi e João Carlos Pádua.
Uma das minhas favoritas nesse álbum é "Belo Horror" do lote de Beto Guedes. Na faixa fica claro que Beto Guedes e amigos andavam ouvindo os primeiros discos do Genesis e Yes, mas a coisa não fica no pastiche por causa da letra do Márcio Borges, que contrapõe Montes Claros [cidade natal do Beto e uma das cidades principais de uma região culturalmente riquíssima e financeiramente paupérrima] e a fatídica Belo Horizonte para onde iam padecer o céu/inferno urbano to mundo de todos os cantos de Minas Gerais. O clima da canção é de um pesadelo em que o mato da terra natal é guardado em segredo num ambiente hostil de cidade e proclama o desejo da "palavra errada" e da "hora certa de entortar".
Como outras faixas desse disco quase desconhecido, "Belo Horror" foi regravada bem mais tarde. Em 1999 no álbum Dias de Paz, "Belo Horror" virou "Asas", com algumas mudanças significativas na música e com a letra também bastante modificada. Agora "Caminhar não tem segredo" e o eu da canção anuncia que sabe voar e criar asas.
Aqui está claramente a diferença entre um primeiro momento do Clube da Esquina no começo dos anos 70 e o que veio depois. Entre a contracapa com o bando de cabeludos reunidos em volta de uma privada em 1973 e a capa com uma espécie de sundae musical feito no computador em 1999, alguém entornou um pote de açúcar nas letras e uma colher de glacê nos arranjos.
Essa doçura e esse brilho me incomodam um pouco, como me incomoda um pouco aquela tendência a uma certa "alegria tra-lá-lá" de certos patos e barquinhos da Bossa Nova e da MPB. Escuto e aprecio algo dessa produção, mas já não tanto.
Belo Horror
[Beto Gudes / Flávio Venturini / Vermelho / Márcio Borges]
Belo Horizonte,
Monte claro, meu segredo,
marcado pelo som que vem do mato.
Mato horizontes,
fundo claros contra o medo
e nada tenho a ver.
Quero a palavra errada,
quero a hora certa de entortar.
Meu amor, Montes Claros.
Belo horror horizonte.
Céu sem dono
Mal começa a clarear...
Asas
Vim de muito longe
Caminhar não tem segredo
Eu trago a formação que vem do mato
Fundo horizontes
Me elevo contra o medo
E faço amanhecer
Todo azul que tem na terra
Pássaro de ouro a voar
Sei voar crio asas
com o som.
Destas cordas crio mundos
para você se habitar.
Uma das minhas favoritas nesse álbum é "Belo Horror" do lote de Beto Guedes. Na faixa fica claro que Beto Guedes e amigos andavam ouvindo os primeiros discos do Genesis e Yes, mas a coisa não fica no pastiche por causa da letra do Márcio Borges, que contrapõe Montes Claros [cidade natal do Beto e uma das cidades principais de uma região culturalmente riquíssima e financeiramente paupérrima] e a fatídica Belo Horizonte para onde iam padecer o céu/inferno urbano to mundo de todos os cantos de Minas Gerais. O clima da canção é de um pesadelo em que o mato da terra natal é guardado em segredo num ambiente hostil de cidade e proclama o desejo da "palavra errada" e da "hora certa de entortar".
Como outras faixas desse disco quase desconhecido, "Belo Horror" foi regravada bem mais tarde. Em 1999 no álbum Dias de Paz, "Belo Horror" virou "Asas", com algumas mudanças significativas na música e com a letra também bastante modificada. Agora "Caminhar não tem segredo" e o eu da canção anuncia que sabe voar e criar asas.
Aqui está claramente a diferença entre um primeiro momento do Clube da Esquina no começo dos anos 70 e o que veio depois. Entre a contracapa com o bando de cabeludos reunidos em volta de uma privada em 1973 e a capa com uma espécie de sundae musical feito no computador em 1999, alguém entornou um pote de açúcar nas letras e uma colher de glacê nos arranjos.
Essa doçura e esse brilho me incomodam um pouco, como me incomoda um pouco aquela tendência a uma certa "alegria tra-lá-lá" de certos patos e barquinhos da Bossa Nova e da MPB. Escuto e aprecio algo dessa produção, mas já não tanto.
Belo Horror
[Beto Gudes / Flávio Venturini / Vermelho / Márcio Borges]
Belo Horizonte,
Monte claro, meu segredo,
marcado pelo som que vem do mato.
Mato horizontes,
fundo claros contra o medo
e nada tenho a ver.
Quero a palavra errada,
quero a hora certa de entortar.
Meu amor, Montes Claros.
Belo horror horizonte.
Céu sem dono
Mal começa a clarear...
Asas
Vim de muito longe
Caminhar não tem segredo
Eu trago a formação que vem do mato
Fundo horizontes
Me elevo contra o medo
E faço amanhecer
Todo azul que tem na terra
Pássaro de ouro a voar
Sei voar crio asas
com o som.
Destas cordas crio mundos
para você se habitar.
Comments