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Poesia mexicana: Muerte sin fin de José Gorostiza

Natureza Morta da pintora Janet Fish [mais dela aqui]
Como chamar a atenção de gente que não conhece literatura mexicana para um poema maravilhoso como "Muerte sin fin" de José Gorostiza? Enchê-lo de superlativos do tipo "o melhor", "o mais importante", "o mais maravilhoso"? Fazer comparações com poemas maravilhosos que o leitor brasileiro conhece? Escrever desse jeito é fazer um ritual que para mim está gasto e sem sentido, mas não fazer esses rituais significa escrever às moscas? Minha gastura ganha. Não sou hoje um bom defensor de "Muerte sin fin" nem de Gorostiza. Paciência. Hoje estou assim, "um desabar de anjos caídos à delcícia intacta do seu pesocontido dentro do meu corpo como a água do poema de Gorostiza está contida nessa primeira parte do poema dentro do copo "rede de cristal que a estrangula".  

MUERTE SIN FIN



                                    Conmigo está el consejo y el ser: yo
                                    soy la inteligencia; mía es la fortaleza
                                    PROVERBIOS, 8, 14

                  Con él estaba yo ordenándolo todo;y
                                    fui su delicia todos los días, teniendo
                                    solaz delante de él en todo tiempo.
                                    PROVERBIOS, 8, 30

                  Mas el que peca contra mí defrauda
                                    su alma; todos los que me aborrecen
                                    aman la muerte.
                                    PROVERBIOS, 8, 36

I
LLENO DE MI, sitiado en mi epidermis
por un dios inasible que me ahoga,
mentido acaso
por su radiante atmósfera de luces
que oculta mi conciencia derramada,
mis alas rotas en esquirlas de aire,
mi torpe andar a tientas por el lodo;
lleno de mí —ahíto— me descubro
en la imagen atónita del agua,
que tan sólo es un tumbo inmarcesible,
un desplome de ángeles caídos
a la delicia intacta de su peso,
que nada tiene
sino la cara en blanco
hundida a medias ya, como una risa agónica,
en las tenues holandas de la nube
y en los funestos cánticos del mar
—más resabio de sal o albor de cúmulo
que sola prisa de acosada espuma.
No obstante —oh paradoja— constreñida
por el rigor del vaso que la aclara,
el agua toma forma.
En él se asienta, ahonda y edifica,
cumple una edad amarga de silencios
y un reposo gentil de muerte niña,
sonriente, que desflora
un más allá de pájaros
en desbandada.
En la red de cristal que la estrangula,
allí, como en el agua de un espejo,
se reconoce;
atada allí, gota con gota,
marchito el tropo de espuma en la garganta
¡qué desnudez de agua tan intensa,
qué agua tan agua,
está en su orbe tornasol soñando,
cantando ya una sed de hielo justo!
¡Mas qué vaso —también— más providente
éste que así se hinche
como una estrella en grano,
que así, en heroica promisión, se enciende
como un seno habitado por la dicha,
y rinde así, puntual,
una rotunda flor
de transparencia al agua,
un ojo proyectil que cobra alturas
y una ventana a gritos luminosos
sobre esa libertad enardecida

que se agobia de cándidas prisiones!

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