O diretor
pernambucano Lírio Ferreira fez dois documentários sobre música que se
complementam muito bem: o mais conhecido deles, Cartola, música para os olhos, e O homem que engarrafava nuvens
sobre Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga.
O primeiro não é apenas a história da vida de Cartola, mas também sobre a história do samba de morro do Rio de Janeiro, sua ascensão de música da patuleia mais desclassificada da cidade até produto da nascente indústria de massa até arte reconhecida como tal e ainda por cima expressão da nacionalidade e produto de exportação/fonte de orgulho.
E o segundo não é apenas a história de Humberto Teixeira, mas também a história da invenção do nordeste musical na indústria cultural e a sua afirmação no Brasil como um todo a partir do sucesso de Luiz Gonzaga e depois com a chegada de uma série de músicos com formação universitária [mas não em música, diga-se de passagem] que vão fazer com essa música o mesmo que fizeram com o samba: de música da patuleia nordestina mais humilde e analfabeta até produto dominante de uma indústria de massa antes da televisão até arte reconhecida como tal e ainda por cima como expressão máxima da brasilidade, produto de exportação capaz de conquistar David Byrne e companhia justamente na Babilônia moderna, Nova Iorque.
Pontuam os dois filmes histórias de família que se desmantelam e se reagrupam aos remendos, de pais e filhos que se separam e tentam se reunir e de mulheres cuja presença ou ausência redime ou atormenta os protagonistas. A voz e as imagens de Cartola e Humberto Teixeira pontuam os dois filmes como aparições de fantasma. São marcadas pelo tempo [as vozes têm marcas de gravações antigas longe da “perfeição” limpa a que estamos acostumados hoje em dia e os filmes são em preto-branco granulado ou na cor esmaecida de filmes de 8 ou 16 milímetros. São também às vezes passadas em câmara lenta.
O filme de Cartola tem uma quantidade sinceramente absurda de material comprimido no filme num exercício de virtuose parecido com o Cidadão Boilensen de Chaim Litewski [outro filme que demorou muito tempo para ficar pronto, aliás]. O de Humberto Teixeira é mais convencional como documentário e deixa transparecer um pouco sua natureza de trabalho feito sob encomenda para a Denise Dumont, filha de Teixeira.
Ambos filmes repetem sem grandes novidades uma narrativa bem conhecida por ser repetida incessantemente por dezenas de outros documentários sobre Música Popular Brasileira. Me refiro àquele tom triunfante de celebração nacionalista narcisista que perpassa a celebração da cultura brasileira de massa sem a menor demonstração de cansaço. Até quando vai esse narcisismo besta? Parece ser infinito, incansável. Pelo jeito, só eu me cansei dele.
O primeiro não é apenas a história da vida de Cartola, mas também sobre a história do samba de morro do Rio de Janeiro, sua ascensão de música da patuleia mais desclassificada da cidade até produto da nascente indústria de massa até arte reconhecida como tal e ainda por cima expressão da nacionalidade e produto de exportação/fonte de orgulho.
E o segundo não é apenas a história de Humberto Teixeira, mas também a história da invenção do nordeste musical na indústria cultural e a sua afirmação no Brasil como um todo a partir do sucesso de Luiz Gonzaga e depois com a chegada de uma série de músicos com formação universitária [mas não em música, diga-se de passagem] que vão fazer com essa música o mesmo que fizeram com o samba: de música da patuleia nordestina mais humilde e analfabeta até produto dominante de uma indústria de massa antes da televisão até arte reconhecida como tal e ainda por cima como expressão máxima da brasilidade, produto de exportação capaz de conquistar David Byrne e companhia justamente na Babilônia moderna, Nova Iorque.
Pontuam os dois filmes histórias de família que se desmantelam e se reagrupam aos remendos, de pais e filhos que se separam e tentam se reunir e de mulheres cuja presença ou ausência redime ou atormenta os protagonistas. A voz e as imagens de Cartola e Humberto Teixeira pontuam os dois filmes como aparições de fantasma. São marcadas pelo tempo [as vozes têm marcas de gravações antigas longe da “perfeição” limpa a que estamos acostumados hoje em dia e os filmes são em preto-branco granulado ou na cor esmaecida de filmes de 8 ou 16 milímetros. São também às vezes passadas em câmara lenta.
O filme de Cartola tem uma quantidade sinceramente absurda de material comprimido no filme num exercício de virtuose parecido com o Cidadão Boilensen de Chaim Litewski [outro filme que demorou muito tempo para ficar pronto, aliás]. O de Humberto Teixeira é mais convencional como documentário e deixa transparecer um pouco sua natureza de trabalho feito sob encomenda para a Denise Dumont, filha de Teixeira.
Ambos filmes repetem sem grandes novidades uma narrativa bem conhecida por ser repetida incessantemente por dezenas de outros documentários sobre Música Popular Brasileira. Me refiro àquele tom triunfante de celebração nacionalista narcisista que perpassa a celebração da cultura brasileira de massa sem a menor demonstração de cansaço. Até quando vai esse narcisismo besta? Parece ser infinito, incansável. Pelo jeito, só eu me cansei dele.
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