1. Frederick Douglass manifesta logo na abertura do seu livro que gostaria muito de saber seu aniversário e quantos anos tinha desde que era uma criança. Aos escravos não se dá uma noção de origem, de começo de biografia. Sua curiosidade é ao mesmo tempo perigosa, possivelmente tomada como indício de um espírito inquieto e, portanto, fonte de desconfiança.
2. Já logo de saída Douglass também afirma o seu caráter de mulato que é marca, de novo, de uma humanidade marcada desde o começo pela mais extrema privação: ele sabe que seu pai é um branco, supõe que seja o produtor/proprietário, provavelmente é o dono da fazenda, da sua mãe e dele mesmo. Ao contrário das afirmações comuns desde o período colonial de que o mulato/mestiço viveria uma espécie de paraíso, o mulato é fonte de intriga e conflito entre o senhor e sua esposa legítima e por isso é frequentemente vendido.
3. Ser mulato num livro que é mais que simples biografia, obra abolicionista, também significa destruir o argumento bíblico que os escravistas dos Estados Unidos invocavam: a fatídica maldição de Cam que daria o selo cristão à escravidão dos africanos já não se aplica aos mulatos que o escravismo produz aos milhares no sul dos Estados Unidos.
4. Terceira privação: a ausência da mãe. Douglass nos informa que é costume em Maryland separar o mais rápido possível a mãe do filho, alugando-a para algum proprietário distante da fazenda e deixando a criança aos cuidados de uma escrava idosa [que já não consegue mais trabalhar no eito]. Trabalhando no eito distante 12 milhas ela ainda consegue visitar a criança quatro ou cinco vezes.
5. O primeiro capítulo termina com uma outra experiência formadora do escravo ["a bloody transaction"]: Douglass ainda criança assiste pela primeira vez a uma violentíssima cena de espancamento. Tia Hester ousa desobedecer o patrão e sai à noite para se encontrar com outro escravo. Furioso [possivelmente ciumento] o senhor da fazenda chicoteia até que o sangue pingue no chão.
6. E então, no segundo capítulo, chega a descrição do canto dos escravos, o canto que sai das vozes daqueles poucos escolhidos para ir levar ou trazer alguma coisa da casa-grande central [Douglass descreve um complexo de fazendas menores em volta de um grande centro onde vive o Senhor de todos os escravos]. No canto do escravo uma fonte poderosa de expressão da tristeza com o cativeiro. Para Douglass uma evocação do primeiro vislumbre da dolorosa desumanização da escravidão mas, paradoxalmente, um poderoso testemunho de sobrevivência como seres humanos. Cantar para Douglass é expressar a tristeza. Mas cantar também é dizer, apesar de tudo, "eu existo!"
2. Já logo de saída Douglass também afirma o seu caráter de mulato que é marca, de novo, de uma humanidade marcada desde o começo pela mais extrema privação: ele sabe que seu pai é um branco, supõe que seja o produtor/proprietário, provavelmente é o dono da fazenda, da sua mãe e dele mesmo. Ao contrário das afirmações comuns desde o período colonial de que o mulato/mestiço viveria uma espécie de paraíso, o mulato é fonte de intriga e conflito entre o senhor e sua esposa legítima e por isso é frequentemente vendido.
3. Ser mulato num livro que é mais que simples biografia, obra abolicionista, também significa destruir o argumento bíblico que os escravistas dos Estados Unidos invocavam: a fatídica maldição de Cam que daria o selo cristão à escravidão dos africanos já não se aplica aos mulatos que o escravismo produz aos milhares no sul dos Estados Unidos.
4. Terceira privação: a ausência da mãe. Douglass nos informa que é costume em Maryland separar o mais rápido possível a mãe do filho, alugando-a para algum proprietário distante da fazenda e deixando a criança aos cuidados de uma escrava idosa [que já não consegue mais trabalhar no eito]. Trabalhando no eito distante 12 milhas ela ainda consegue visitar a criança quatro ou cinco vezes.
5. O primeiro capítulo termina com uma outra experiência formadora do escravo ["a bloody transaction"]: Douglass ainda criança assiste pela primeira vez a uma violentíssima cena de espancamento. Tia Hester ousa desobedecer o patrão e sai à noite para se encontrar com outro escravo. Furioso [possivelmente ciumento] o senhor da fazenda chicoteia até que o sangue pingue no chão.
6. E então, no segundo capítulo, chega a descrição do canto dos escravos, o canto que sai das vozes daqueles poucos escolhidos para ir levar ou trazer alguma coisa da casa-grande central [Douglass descreve um complexo de fazendas menores em volta de um grande centro onde vive o Senhor de todos os escravos]. No canto do escravo uma fonte poderosa de expressão da tristeza com o cativeiro. Para Douglass uma evocação do primeiro vislumbre da dolorosa desumanização da escravidão mas, paradoxalmente, um poderoso testemunho de sobrevivência como seres humanos. Cantar para Douglass é expressar a tristeza. Mas cantar também é dizer, apesar de tudo, "eu existo!"
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