Então o mundo se modificou radicalmente nos últimos 30 anos. Eu acredito que em alguns poucos setores melhoramos bastante, e acho que essas melhoras são legados que me fazem pensar nos meus filhos como pessoas de sorte. Mas para cada mudança positiva, eu infelizmente vejo também uma mudança para pior.
Um paradoxo: como é que podemos viver simultaneamente numa sociedade cada vez mais e cada vez menos tolerante com relação a diferenças diversas? Cada movimento no sentimento da abertura a outras escolhas de vida, a outras formas de interação, parece vir acompanhado por uma reação brutal a essas melhorias. Uma onda reacionária carregada de ódio parece se articular lá no fundo dos cafundós da internet e os reacionários de sempre se sentam confortavelmente na poltrona e assistem indiferentes ao massacre eminente. Como não desconfiar que estamos caminhando para um precipício neo-fascista? No Brasil, penso que podemos estar bem perto de experimentar algo numa escala e intensidade inéditas. As intenções de voto não me deixam negar.
O ódio é apenas um dos afetos violentos que são a moeda corrente mais banal do nosso tempo. as condições objetivas são bem concretas: para existir nas redes sociais cocê tem 10 segundos para fazer com que seu público não clique o mouse e pule para o próximo texto/imagem/filme. Nesses 10 segundos você trata de agarrar pela lapela e sacudir violentamente o seu público, que é instado a reagir instantaneamente com uma gargalhada, um nó na garganta, uma lágrima de ternura ou um embrulho do estômago. Não é por nada que algo que eu poderia chamar de "melodrama atômico" é o gênero preferido de 9 entre 10 "estrelas" do mundo das redes sociais. Usinas produtoras de paixões e ódios, as redes sociais, capazes de sacudir com indignações e urros de euforia o mais fleumático dos indivíduos.
Dito isso, há que se reconhecer que não faltam razões muito concretas para a indignação geral. Mas esse estado permanente de indignação, esse papel constante de ser ofendido pelo mundo é sumamente exaustivo [pelo menos para mim]. Além do mais, suponho que estando emocionalmente exaustos, aceitamos de bom grado o fascismo. Adianto que não procuro explicações especificamente brasileiras para um fenômeno que é, creio, global. Nossa mistura brasileira de pessimismo e ufanismo nos impele para respostas provincianas para problemas de escala global. Eu não quero nada com ela.
Um paradoxo: como é que podemos viver simultaneamente numa sociedade cada vez mais e cada vez menos tolerante com relação a diferenças diversas? Cada movimento no sentimento da abertura a outras escolhas de vida, a outras formas de interação, parece vir acompanhado por uma reação brutal a essas melhorias. Uma onda reacionária carregada de ódio parece se articular lá no fundo dos cafundós da internet e os reacionários de sempre se sentam confortavelmente na poltrona e assistem indiferentes ao massacre eminente. Como não desconfiar que estamos caminhando para um precipício neo-fascista? No Brasil, penso que podemos estar bem perto de experimentar algo numa escala e intensidade inéditas. As intenções de voto não me deixam negar.
O ódio é apenas um dos afetos violentos que são a moeda corrente mais banal do nosso tempo. as condições objetivas são bem concretas: para existir nas redes sociais cocê tem 10 segundos para fazer com que seu público não clique o mouse e pule para o próximo texto/imagem/filme. Nesses 10 segundos você trata de agarrar pela lapela e sacudir violentamente o seu público, que é instado a reagir instantaneamente com uma gargalhada, um nó na garganta, uma lágrima de ternura ou um embrulho do estômago. Não é por nada que algo que eu poderia chamar de "melodrama atômico" é o gênero preferido de 9 entre 10 "estrelas" do mundo das redes sociais. Usinas produtoras de paixões e ódios, as redes sociais, capazes de sacudir com indignações e urros de euforia o mais fleumático dos indivíduos.
Dito isso, há que se reconhecer que não faltam razões muito concretas para a indignação geral. Mas esse estado permanente de indignação, esse papel constante de ser ofendido pelo mundo é sumamente exaustivo [pelo menos para mim]. Além do mais, suponho que estando emocionalmente exaustos, aceitamos de bom grado o fascismo. Adianto que não procuro explicações especificamente brasileiras para um fenômeno que é, creio, global. Nossa mistura brasileira de pessimismo e ufanismo nos impele para respostas provincianas para problemas de escala global. Eu não quero nada com ela.
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