O
Complexo Industrial do Branco-Salvador
Teju Cole, 21 de março de 2012 [Publicado na revista Atlantic]
Se
vamos nos meter na vida dos outros, um pouco de escrúpulo é o requerimento
mínimo.
Faz uma semana e
meia eu assisti ao vídeo Kony2012. Escrevi em sequência uma breve resposta dividida
em sete partes, que postei em sequência na minha conta do Tuíter:
1.
Do Goldman-Sachs ao
colunista Nicholas Kristof passando pelo movimento Invisible Children e as conferências TED, a indústria que mais
cresce nos Estados Unidos é o Complexo Industrial do Branco-Salvador.
2.
O Branco-Salvador apoia
políticas de violência de manhã, patrocina instituições de caridade à tarde e
recebe prêmios à noite.
3.
A banalidade do mal se
transmuta na banalidade do sentimentalismo. O mundo inteiro não passa de um
problema a ser resolvido pelo seu entusiasmo.
4.
Esse mundo a resolver existe
para satisfazer às necessidades – incluindo, é importante, as necessidades sentimentais
– dos brancos e de Oprah Winfrey.
5.
O Complexo Industrial
do Branco-Salvador não tem nada a ver com justiça. Trata-se de prover uma
grande experiência emocional que dê legitimidade ao seu privilégio.
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6.
Preocupe-se febrilmente
com aquele terrível africano que é chefe de uma facção armada. Mas saiba que perto
de 1.5 milhão de Iraquianos morreram por causa da guerra estadunidense do momento.
Preocupe-se também com isso.
7.
Eu tenho um profundo
respeito pelo sentimentalismo estadunidense do mesmo jeito que respeito a um
rinoceronte ferido. É melhor ficar sempre de olho, por que você sabe que ele é
letal.
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