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Para complicar um pouco as coisas, a história

1. Antes de ser Minas Gerais Minas era Minas dos Cataguases.

2. Entre 1831 e 1850 aproximadamente 700.000 africanos foram trazidos para o Brasil ilegalmente. Quase a totalidade dos escravos libertados em 1888 eram portanto escravos fraudulentamente. Isso não impediu que os grandes proprietários seguissem exigindo indenizações pelos escravos libertados pela Lei do Ventre Livre e até pela infame Lei dos Sexagenários.

3. As tropas que saíram de Minas Gerais para dar o golpe militar no Rio de Janeiro em 1964 cruzaram a fronteira às 11 horas da noite de 31 de março. Preocupados com o ridículo de declarar um golpe no dia da mentira, os militares insistiam em chamar o golpe de movimento ou revolução e cravar a data no dia 31 de março. E isso foi só o começo de 21 anos de mentiras, eufemismos e idiotices.

4. Um golpe de morte no apartheid americano foi o decreto que proíbe a discriminação em lugares públicos conhecido como The Civil Rights Act. Ele foi votado no congresso dos Estados Unidos no dia 24 de fevereiro de 1964 e foi aprovado com um placar final de 290 a favor e 130 contra. Apoiaram o projeto do presidente Johnson 61% dos democratas (com 152 votos "sim" e 96 votos "não") e 80% dos republicanos  (138 votaram "sim" e 34 votaram "não"). 

5. Os mesmos que acompanharam em absoluto silêncio a deportação em massa de mais de dois milhões de pessoas pelo governo do presidente Obama, choram agora pitangas pelos deportados pelo governo Trump. A mesma coisa com relação a política externa como terrorismo de estado que se transformou em parte substancial da presença dos Estados Unidos no mundo. A única novidade são alguns eufemismos sinistros: tortura virou "enhanced interrogation techniques", sequestro virou "extraordinary rendition" e  assassinato virou "extrajudicial elimination". A única pessoa que que eu li que falou nas continuidades entre democratas e republicanos nesses e em outros sentidos de forma plenamente compreensível foi Perry Anderson. 


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