Em 1950 Joseph McCarthy era um senador pelo estado agrícola de Wisconsin. Antes de se eleger ele tinha trocado o partido democrata pelo republicano. Na primeira tentativa ele ainda era militar, coisa que as leis dos USA proibiam. Na segunda tentativa ele era juiz e também não poderia ter se candidatado. Durante a campanha ele mentiu sobre seus feitos durante a segunda guerra. Sua fama era de ter sido comprado pela Pepsi - ele buscou o fim do racionamento de açúcar nos EUA - e da construção civil. Fora isso, nada.
Considerado um político desimportante e inábil no seu próprio partido, McCarthy foi levado para fazer um discurso num clube no estado de West Virginia. Ele não planejou o discurso, mas trouxe umas notas sobre dois assuntos: a construção de casas para veteranos da guerra e a infiltração de comunistas no governo. Na hora H optou pelo segundo tema e, num lance típico, sacudiu as suas notas dizendo que ali estavam o nome de 250 comunistas infiltrados na Casa Civil do governo federal.
O discurso criou sensação e saiu em vários jornais. McCarthy o repetiu - mudando o número de comunistas de um lugar para o outro - e começou a ganhar fama como caçador de comunistas. Três anos depois ele tomaria o controle de uma comissão do congresso e o transformaria numa comissão de caça aos comunistas. Os outros senadores pararam de frequentar as sessões e McCarthy transformou-se numa espécie de Silvio Santos do anticomunismo, com acusações - sempre sem provas - contra todo o tipo de pessoas no governo e em outras esferas da vida pública nos EUA, entre eles George Marshall, autor do plano que levava seu nome. Os jornais do grupo Hearst - a inspiração para o Cidadão Kane de Orson Welles - garantiam a cobertura, os barões do petróleo do Texas garantiam as verbas e os outros políticos morriam de medo da metralhadora verbal do senador. McCarthy convocou mais de 500 testemunhas para espetáculos de intimidação e esculacho, sempre feitos no caos do improviso furioso. Ninguém foi condenado oficialmente, mas muitos perderam seus empregos e passaram a viver em completo ostracismo. Gente como encadernadores de documentos oficiais ou dentistas de soldados do exército.
A paranóia anti-comunista já existia faz tempo nos EUA e era parte fundamental da Guerra Fria. Truman - o homem que torrou 225 mil vidas em dois bombardeios em 1945 - tinha criado um programa federal de lealdade para os funcionários públicos. Entre 1947 e 1953, mais de 4 milhões de funcionários públicos tiveram que preencher formulários de auto-denúncia e desses mais de 25 mil perderam o emprego. Entre os desleais para o governo Truman estavam os homossexuais, que poderiam ser forçados a espionar os EUA por causa do seu comportamento "deplorável". O congresso não ficou atrás e lançou o House Un-American Activities Committee, condenando à prisão e condenando ao ostracismo não apenas funcionários públicos, mas de gente da indústria do cinema a professores primários. Se a promotoria geral da república listasse, digamos, uma torcida organizada do Internacional como simpática ao comunismo e se um sujeito tivesse participado, mesmo que só por um jogo, de uma festa patrocinada pela tal torcida, ele estaria marcado como alvo potencial para a caça ás bruxas.
McCarthy acabou caindo em desgraça, acusado de favorecer amigos que queriam se livrar do serviço militar com ameaças de caça a "comunistas" no exército. O senador de uma nota só respondeu como sabia: "investigando" comunistas no exército. Aí um advogado - Joseph Welch - fez o que ninguém ainda tinha conseguido fazer: dar corda e mais corda até que McCarthy se enforcasse na frente de milhões de espectadores na televisão. O bufão bufou e espumou e xingou até cansar e aí Welch simplesmente deu um cheque-mate retórico:
"não vamos continuar a assassinar a reputação desse rapaz; vossa excelência já fez mais que o bastante. Vossa excelência não tem senso de decência? Depois disso tudo, não restou nenhum senso de decência?[e McCarthy, como sempre, não largou o osso] Senador McCarthy, não vou mais discutir esse assunto com vossa excelência. Se Deus existe, esse espetáculo não vai ajudar nem a vossa excelência nem a sua causa."
Depois disso os próprios senadores se voltaram contra ele - dizem que quando ele se levantava para fazer um discurso, mais da metade da casa saía da sala. Os democratas retomaram a maioria do senado e ele perdeu o cargo de chefe da sua comissão. Em 1957, aos 48 anos, McCarthy morreu de hepatite causada pelo seu alcoolismo. Também em 1957 o Supremo limitou o poder do executivo de bisbilhotar sobre as crenças políticas dos funcionários públicos. Foram 10 anos de caça aos subversivos.
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