Skip to main content

Viver no paraíso neo-liberal

Viver nos Estados Unidos num estado completamente republicano é assim: passamos já quase uma SEMANA no escuro e no frio s/ energia elétrica [e consequentemente sem internet] em casa por causa de uma chuva com gelo das que eu vivi pelo menos dez vezes por ano no Nordeste dos EUA [que está longe de ser o lugar com o pior clima de inverno nos EUA].

Ficamos todos fingindo que a culpa foi da tal "terrível" chuva, mas os serviços públicos estão todos privatizados e as empresas estão completamente livres para sucatear a infraestrutura e oferecer serviços de péssima qualidade em nome do lucro fácil.

Na universidade pública, administrada por um conselho indicado pelos governadores republicanos, e cada vez mais dependente de recursos privados, seguimos com as nossas atividades normalmente, cortando e encarecendo o seguro de saúde dos funcionários mais vulneráveis [em nome da "competitividade"] enquanto criamos novas "iniciativas" para "vender melhor nossa pesquisa". Traduzindo: criamos novos cargos administrativos com altos salários e fazemos a vida de instrutores e funcionários ainda pior do que já é.

E seguimos em frente com estádios de futebol americano, bares e restaurantes lotados de "desmascarados", apesar do aumento dramático de casos de COVID-19 e mesmo depois da morte de um aluno. E a saúde pública privatizada continua depenando os doentes [os milhões sem-seguro nenhum e os outros milhões com-seguro-de-meia-tigela] até a mais completa ruína.

Comments

Está tudo terrível, mas vai passar.
Juliana Furlani said…
Oi Paulo, um absurdo! E discordo do comentário anterior, não vai passar, só vai piorar. O mundo não suporta mais a política de tudo para poucos. E tem brasileiros apoiando a redução dos serviços públicos. Compram a historinha do governo no preço que a vendem. E amam os EUA sem crítica, sem perceber que os anos dourados ficaram pra trás.
E para completar, os resultados eleitorais mostram que Oklahoma continua dominado pelos republicanos. Mais ou menos um terço das pessoas que vivem aqui não concordam, mas o sistema distrital no modelo americano ignora completamente esse terço e entrega praticamente todo o poder aos republicanos. A mesmo dinâmica de sucateamento e concentração de renda vai continuar por aqui, ainda que sejamos um dos estados mais pobres do país.
Tyreese said…
Great reading your blogg post

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...