Acho triste a forma como tantas pessoas transformam qualquer assunto político numa briga de torcedores de futebol. A coisa fica ainda mais triste quando se trata de geopolítica no momento em a Rússia invade a Ucrânia. Vejo pessoas "torcendo" entusiasmadamente por um dos dois lados, como se não estivesse a vida de milhares de pessoas comuns que não tiveram escolha. Os lados deste conflito são muito complexos. Não quero nem contribuir para essa gritaria com mais uma interpretação - prefiro escutar pessoas mais bem informadas e preparadas do que eu. Infelizmente as vozes mais escutadas são as de pessoas que não tem preparo nem informações para falar sobre o assunto e preferem simplificações grotescas.
Só tenho duas coisinhas a dizer, aqui nesse canto mais sossegado, entre amigos.
Estou completamente de acordo com o direito de autodeterminação dos povos. Os eventuais problemas da Ucrânia, seja lá quais forem, são coisas para serem resolvidas entre eles. Isso involve até mesmo desejos separatistas. Se alguma região da Ucrânia quer se separar e se unir à Rússia eles teriam que resolver isso com a Ucrânia sem a intervenção de ninguém. Por isso fui contra as sugestões de intervenções em lugares como Iraque, Venezuela, Cuba, Coréia, etc. E sou contra a invasão da Ucrânia. O histórico de intervenções imperialistas é longo e vasto e envolve muitos países: Rússia, Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, Japão, China, Arábia Saudita e outros.
Tenho um colega do Iêmen. A tragédia que afeta esse país já há anos tem para mim rosto e concretude. A desgraça em que o Iêmen está tem ligações diretas com ações imperialistas, intervenções sem as quais, na pior das hipóteses, o conflito seria mais curto e mais restrito. Alguns poucos comentaristas recentes tiveram a cara-de-pau de deixar explícito o que está implícito na cobertura internacional: a vida de alguém no Iêmen [ou no Brasil, não se deixem enganar] não vale um décimo da vida de um europeu, mesmo que de um Europeu do leste. E me dá vergonha ver a cobertura brasileira seguir servilmente o tom da cobertura dos Estados Unidos ou da Inglaterra para esses dois conflitos.
Comments