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Efraín Huerta e a minha angústia canalizada para uma "Elegia a mulher barbada"

O poeta mexicano Efraín Huerta (um lado B magnífico para as suítes de rock progressivo do seu contemporâneo mais famoso, o "nobelado" Octavio Paz) disse quase tudo o que eu queria dizer sobre meus motivos para escrever em dois de seus poemínimos:

Pues sí
Hablando
Se
Enciende
La
Gente.

Luz, más luz

Es terrible
Pero
Cada día
Son más claros
Los intereses
Más oscuros

Mas será que adianta, Efraín? Resolvi escrever uma elegia, excelente maneira de desopilar o fígado cansado:

Elegia à mulher barbada

Logo abaixo dos bigodes
da mulher barbada
em pose fatal, em postas,
os lábios vendem a boca.

A boca rosada dessa fêmea peluda
vende os alvos dentes,
que vendem pasta de dente que,
vermelha na ponta da escova,
desce branca e espumante,
alagando de creme a baía do estômago
(que vende acidulantes e corrosivos
artesanais orgânicos originais fascinantes)
e depois sobe num espasmo golfo pérsico
pela garganta
(nervosa e relutante por dentro,
aqui de fora ela nos vende
um belo colar de diamantes
que pende da nuca peluda até umbigo
que, potencial de repente descoberto,
vende um belo pingente dourado do líbano
que desce balouçante
até o doce meio das pernas
que nuas vendem fabulosos outros cremes
capazes de rejuvenescer
uma coleira de rugas,
uma floresta de papadas,
uma manada rebelde de gordura flácida,
e até um barril de pólvora grisalha).

Comments

Anonymous said…
Fuerte a tua mulher barbada. Legal teu espaço. beijos.
Mauro Pereira said…
Obrigado, Andrea.

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