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Abril de 1954

Imagem: http://www.brasilescola.com/upload/e/big%20bang.jpg


[O acesso à internet anda bem restrito e o acúmulo de tarefas terrível, mas garanto aos meus inumeráveis leitores que eu ainda não desisti desse troço aqui.]


Rio, abril, 1954


"Foi assim: eu estava fazendo o livro de novelas - que iam ser 9 (número favorável, cabalisticamente) e estavam saindo enormes, algumas parecendo verdadeiros romances. Pois bem, já prontos os rascunhos das seis primeiras aconteceu que a sétima começou a revoltar-se. Os motivos requeriam espaço e mais espaço, o cartapacio crescia, crescia, por mais que eu tirasse, cortasse, comprimisse, empurrasse a coisada para dentro do saco. Fui ficando seriamente angustiado; até que, de repente, me veio a solução salvadora: mudar o escrito para um romance. Foi o que passei a fazer. A pulso, de cabeçada em cabeçada. Ei-lo, pois, que já chegou à página 219, ontem à noite. (...) A coisa está quente, os assuntos são tremendos, quase terroríficos. Não há capítulos, nem divisões de espécie alguma. Texto maciço. Tijolóide. Narrado, 1a pessoa, e o narrador é um ex-jagunço chefe de bando (...) Muito movimento, muito tiro, muitas batalhas e correrias de cavalo. Só depois, na primeira passada a limpo, é que vou ver se presta."

Comments

Quel said…
Você deu um sinal de vida! :)

Outro dia assistimos a uma peça montada a partir de 4 contos do "Primeiras Estórias". 4 diretores fizeram montagens diferente a partir dos contos escolhidos. Uma maravilha. Teve teatro de sombras, teatro de bonecos, tudo praticamente sem texto falado. Muito legal, mesmo. Fiquei me lembrando de você. Acho que ia curtir...
Que inveja, Quel! Acho que só vai dar para aparecer por aí no fim de agosto... Vcs não vem visitar a família e comer queijo sem gosto de borracha, não?

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Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...