Skip to main content

Atrás da linguagem da loucura

Escrevi um conto de um par de páginas baseado em um personagem real. Minha idéia era tentar escutar e então me aproximar o máximo possível da linguagem da loucura sem ficar doido. Eis aqui o primeiro parágrafo:

"Confesso que era ateu quando o tal pastor apareceu na minha casa e insistiu em conversar comigo. Desci e quando o encontrei reconheci de cara o capitão do disco voador com quem tinha tido contato treze anos antes, em novembro de 1951. Eu disse a ele logo de cara que não queria perder meu tempo com um agente estrangeiro subversivo que se disfarçava em uma forma alienígena simples só para confundir e então dominar povos mais inocentes, mas ele me garantiu que não era verdade. Então convidei-o para almoçar com a intenção de testá-lo, com o cuidado de não transparecer meu intuito. "

Comments

Anonymous said…
Achou a linguagem da loucura.
sabina said…
puxa, uma vez tambem pensei em fazer isso mas desisti, achei que seria muito dificil.

na usp tinha um loquinho chamado maranhao, que ficava rodeando e conversando com os estudantes. tinha uns 40 anos e jeito de maranhense, justamente. diziam que era um ex aluno de ciencias sociais que tinha pirado.

ele nao contava propriamente historias. comecava a falar e ia teorizando sobre o mundo, o comunismo, era um papo teorico que parecia ter alguma intuiçao de verdade, mas seguia num raciocinio que nunca voltava aos argumentos iniciais.

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...