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Showing posts from August, 2009

Glossário útil para compreender o maravilhoso mundo moderno 2 - Poder Judiciário

Imagem: Deuses do mundo moderno, mural de José Clemente Orozco, 1932. Dartmouth University, Hanover, New Hampshire. Poder Judiciário: parque de diversões exclusivo, de onde a língua portuguesa foi banida e onde reina a ilusão, para alguns sempre pendente, de que tudo se arranja em meio expediente.

Glossário útil para compreender o maravilhoso mundo moderno - Mercado

foto: http://bldgblog.blogspot.com/2007/03/architecture-on-wall-street.html Mercado: cada época inventa o deus que merece; acreditar nos desígnios fatalistas deste ser que, embora imaginário, controla nossos destinos movido pela fé de suas muitas vítimas e poucos beneficiários é, basicamente, a maneira contemporânea de lavar as mãos frente ao inferno que nos transforma em sabão em pó.

Conto meu

Mais de um mês sem internet em casa (sem contar umas duas semanas sem casa). Resultado: esse sumiço do blogue. Segue então um conto em fragmentos inteiro de uma vez só (desculpa o tamanho do post): Isidoro O fruto retorna ao caroço, Reiniciando o sumo das ruínas. Fabrício Carpinejar Estou sepultado aqui dentro desse peito de pedra. Roça a minha testa com as suas mãos frias o rio do passado e as suas memórias, manada de icebergs, passam boiando por cima das minhas pálpebras, agora também de pedra. A vida aqui em baixo é uma sequência interminável de repetições da relojoaria descomposta que é o meu passado, desde o paraíso visceral do feto até aqui: a boca do inferno. ... - Vai custar, menino, a mó d’ocê chegar perto do pé do seu pai. - Nem nunca pensei nisso. Já custa demais chegar no pé do que eu quero ser eu mesmo. ... - Só não quero que ele fique me batendo toda a hora, que eu não sou cachorro de ninguém. - Seu pai te bate pro seu bem, porque ele é bom e te ama e te quer bem. - Nó...

Loucura - Final

Dois dias depois ele me estendeu a mão e me deixou. Pediu-me que não o seguisse. Eu não poderia mais vê-lo e isso me aborrecia. Assisti impotente ele sumir e tive desejo de segui-lo, mas seria desleal com alguém tão amigável e fiquei aqui. Agora começa a minha aventura. Guardo esse caderno de capa de couro comigo todo o tempo, pois sei que sou seguido de perto pelos órgãos de informação do nosso governo desejosos de poder e por agentes internacionais invejosos do nosso prestígio inter-galáctico. Pretendo publicar tudo o que aprendi, coisas que irão certamente mudar todos os campos do saber humano nos próximos duzentos anos. Estará tudo reunido numa edição completa com capa dura e ilustrações e em outra, resumida, em capa de brochura, para distribuição mais extensiva, que pretendo colocar à venda nas bancas de jornais do país. Mas para que esse sonho se concretize preciso primeiro derrotar os militares e essa ditadura que já dura quase dois anos e é uma forma inferior de governo e contr...

Loucura 3

Continuamos aquela conversa por duas semanas, sentados frente a frente na mesa de jantar da minha casa, discutindo todo o tipo de assunto e ele, sem nunca se alterar, com profundidade e bom senso sobre-humanos, me explicou os mistérios do céu e da terra. Saí dali convicto que o pastor era quem dizia e não mais um subversivo estrangeiro qualquer e passei a anotar minuciosamente em um caderno de capa de couro tudo que ele me contou sobre nosso mundo e também sobre o mundo dele e o espaço sideral em geral. Transcrevo um pequeno exemplo da sua sabedoria: “De forma alguma fábricas são sempre construídas para resolver problemas fundamentais. A grande maioria delas estão ocupadas com a produção de cosméticos, jóias, badulaques femininos, incontáveis bolsas, chapéus ridículos, novidades banais, esmalte de unha, sapatos que machucam os pés e estragam a cavalgadura, meias que não oferecem proteção alguma, charutos que envenenam o corpo, goma de mascar, bolas de futebol, pistolas e armas de caça,...

Linguagem da Loucura 2

[Claro que os loucos da predileção da literatura são os paranóicos, que nada mais são leitores compulsivos que enxergam chifres em cabeça de cavalo] Comecei perguntando pelas primeiras palavras da bíblia em hebraico; depois conversei com ele longamente em latim, francês e finalmente inglês. Ele dominava tanto essas línguas como demonstrava conhecimentos profundos sobre história e geografia que em quase nada destoavam do nosso atual saber científico ortodoxo sobre essas matérias. Resolvi então questionar-lhe sobre ciências: sendo ele um extra-terrestre teria que necessariamente demonstrar conhecimentos mais avançados que os nossos e uma base sólida para argumentar sobre eles. “Qual o seu nome?” perguntei de cara. “Eu não tenho nome no seu sentido da palavra. No meu planeta nomes são uma descrição do caráter de cada um, dos méritos e deméritos que conhecemos e mesmo aqueles que ainda não conhecemos. Nossos nomes são uma combinação de sons incompreensíveis ao seu ouvido humano, que pensa ...