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Lingüíçtica





Primeiro matam a língua
com luvas de borracha,
põem o corpo inerte na mesa,
fazem incisões precisas
esticam e medem centímetros,
anotam dados nos cadernos de notas,
abrem o coração frio e duro,
tiram moldes em gesso dos vazios,
nomeiam e numeram
cada músculo despregado dos ossos
preservado perfeito em gelo picado,
serram o côco, tiram o miolo
em quartos guardados em sacos plásticos
selados e seriados,
dissecam a matéria com a lupa,
remontam no papel a estrutura,
a matemática dos desejos,
a álgebra das metáforas,
a fisiologia das vontades.

E quando chegam em casa,
sabem que não fizeram nada.

Comments

Lindo!

Pensei logo nas aulas d anatomia da faculdade.

Era tão dificil estar ali...
Eu até entendo a utilidade científica desse tipo de coisa - inclusive na área de "línguas", mas acho que o pessoal "do lado de lá" não entende a utilidade do que fazemos "do lado de cá" [as humanidades], daí a ironia. Uma das coisas que eles não percebem é que a humanidade das coisas se perde quando a gente separa e quantifica tudo em partes mensuráveis e acha que isso só basta.
E imagino a barra das aulas de anatomia...
Anonymous said…
Gente!

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