O Capital tem um primeiro grande momento quando Marx introduz o conceito de fetiche da mercadoria:
"Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar." [achei essa versão em português aqui]
Essa referência, hoje meio esquisita, a "mesas que dançam", que na tradução inglesa que eu tenho é dada pelo termo "table-turning", é uma fina ironia com a moda das seções espíritas, como a da ilustração acima (Uma excelente fonte online sobre o assunto, de onde aliás tirei a ilustração acima está aqui).
A voz monótona do economista e do filósofo que discorriam com uma lógica lenta e implacável sobre metros de pano e casacos de repente se ilumina com uma fina ironia que reconhece algo mais complexo e nada racionalista no nosso relacionamento com as coisas transformadas em mercadoria. É como se Marx nos dissesse com um sorriso irônico que lá no coração da sociedade europeia industrial, moderna, civilizada, racional mora um coração fetichista, primitivo, pré-moderno. Não estou comparando traduções porque mal sei dizer bom dia em alemão, mas a versão em inglês me soa bem melhor:
The form of wood, for instance, is altered if a table is made out of it. Nevertheless the table continues to be wood, an ordinary sensuous thing. But as soon as it emerges as a commodity, it changes into a thing which transcends sensuousness. It not only stands with its feet on the ground, but, in relation to all other commodities, it stands on its head, and evolves out of its wooden brain grotesque ideas, far more wonderful than if it were to begin dancing of its own free will.
"Por exemplo, a forma da madeira é alterada, ao fazer-se dela uma mesa. Contudo, a mesa continua a ser madeira, uma coisa vulgar, material. Mas a partir do momento em que surge como mercadoria, as coisas mudam completamente de figura: transforma-se numa coisa a um tempo palpável e impalpável. Não se limita a ter os pés no chão; face a todas as outras mercadorias, apresenta-se, por assim dizer, de cabeça para baixo, e da sua cabeça de madeira saem caprichos mais fantásticos do que se ela começasse a dançar." [achei essa versão em português aqui]
Essa referência, hoje meio esquisita, a "mesas que dançam", que na tradução inglesa que eu tenho é dada pelo termo "table-turning", é uma fina ironia com a moda das seções espíritas, como a da ilustração acima (Uma excelente fonte online sobre o assunto, de onde aliás tirei a ilustração acima está aqui).
A voz monótona do economista e do filósofo que discorriam com uma lógica lenta e implacável sobre metros de pano e casacos de repente se ilumina com uma fina ironia que reconhece algo mais complexo e nada racionalista no nosso relacionamento com as coisas transformadas em mercadoria. É como se Marx nos dissesse com um sorriso irônico que lá no coração da sociedade europeia industrial, moderna, civilizada, racional mora um coração fetichista, primitivo, pré-moderno. Não estou comparando traduções porque mal sei dizer bom dia em alemão, mas a versão em inglês me soa bem melhor:
The form of wood, for instance, is altered if a table is made out of it. Nevertheless the table continues to be wood, an ordinary sensuous thing. But as soon as it emerges as a commodity, it changes into a thing which transcends sensuousness. It not only stands with its feet on the ground, but, in relation to all other commodities, it stands on its head, and evolves out of its wooden brain grotesque ideas, far more wonderful than if it were to begin dancing of its own free will.
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