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Poesia minha: Domingos sem deus

Mash up – Domingos sem deus

1. Mirim
o tato das lembranças
lê a letra miúda
apagada no verso
dessa fotografia
desembrulhando o nada
esquadrinhando vargens vazias

2. Sem remédio
parcas palavras
muitas desconfianças

3. Trens
a saudade rói
a vida desanda
a lataria tirita
a tarde se imola

4. Sorte teve a Sandra
arrimo de um restolho de família
só havida mesmo num retrato
batido num distante sete de setembro
desmoronando, meu deus
nem tanque nem tecelagem
nem esse visgo de miséria
conformismo atávico desambição
melhor correr daqui correr o mundo
safa esperta astuta ladina pavã

5. Milagres
a galinha ara o chão
cisca o monturo
o vira-lata de lugar nenhum
alegria interesseira
cinismo estabanado
covardemente hipócrita
sonha sacos de lixo
fartos e suculentos
até abalar porta afora
para nunca mais voltar
só com os documentos e a roupa do corpo  
um homem em desespero
exilado espera

6. Outra fábula
apeou na rodoviária
pousou na pensão
enfiou a mala de papelão debaixo da cama
desabou o corpo fatigado
dormiu sono sem sonhos
rompido o passado
resta a condena
irremediável solidão




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