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Silêncios estratégicos no meio da gritaria

Desenho meu: Auto-Retrato
Enquanto presidente colombiano, em 2008 Álvaro Uribe exportou para os Estados Unidos “14 Pinochets” – líderes das milícias paramilitares – para serem julgados como traficantes de drogas. A saída desses homens em aviões dos Estados Unidos na calada da noite, antes que a justiça colombiana pudesse começar a julgá-los e sem buscar permissão da mesma chocou o país. Nos Estados Unidos, julgados apenas pelo cultivo e tráfico de drogas sem levar em conta milhares de mortes e abusos pelas quais esses homens são responsáveis. Assim, receberam sentenças relativamente curtas e, encurtando suas sentenças por cooperar com as autoridades dos Estados Unidos em suas investigações sobre o tráfico, podem até mesmo sair em menos de dez anos da prisão, com o bônus de ganhar então o direito de permanecer nos Estados Unidos. À medida em que as investigações sobre as ligações entre os paramilitares e a família Uribe avançam, os possíveis motivos da extradição súbita e sigilosa ficam mais claros, mas isso se reduz a silêncio.

No Brasil, a polícia federal apreendeu 450 quilos de pasta de cocaína num helicóptero de propriedade do filho deputado de um senador da república, numa fazenda também de prioridade da família desse senador, pilotado por um funcionário da assembleia legislativa de Minas Gerais a serviço do mesmo filho desse mesmo senador e abastecido com dinheiro da verba indenizatória do deputado. Esse homem, que chegou a senador meramente por ser suplente de um Itamar Franco que se candidatou já doente de câncer, continua impávido colosso senador da república. Seu filho foi recentemente indicado como Secretário Nacional de Futebol, possivelmente como agradecimento pelo papel do pai no golpe que tirou Dilma Rousseff do poder. O helicóptero foi devolvido à família. O silêncio como no caso da Colômbia grita a plenos pulmões.   


Um grupo de especialistas em 2012 recomendou que a agência federal que regula os medicamentos nos Estados Unidos exigisse treinamento aos médicos que receitavam remédios para alivio da dor fortíssimos como o Oxycodone e o Nalaxone. A indústria farmacêutica e a Associação Médica Americana exerceram sua influência para que nada fosse feito. Dois anos depois, de acordo com números do próprio governo americano, diariamente mais de meio milhão de receitas são preenchidas e 68 pessoas morrem de overdose. O silêncio contrasta de forma gritante, como nos dois casos anteriores, com a renovação de um barulho interminável sobre o problema das drogas e do vício.  

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