" ... é preciso fazer um reparo importante sobre
a relação entre literatura e cinema em adaptações cinematográficas. Creio ser mais
produtivo pensar nessas adaptações como uma forma peculiar de interpretação ao
invés de pensá-las como traduções intersemióticas segundo a classificação de
Jakobson. Isso porque as adaptações cinematográficas tradicionalmente têm uma
relação muito mais livre com o texto de origem que têm as traduções, mesmo aquelas
autodefinidas como “transcriações”. As noções textuais de fonte e derivação estão
no cerne do trabalho tradutório e por isso faz sentido que elas tenham
protagonismo na análise crítica desse tipo de trabalho, mas não são adequadas na
análise de adaptações de textos literários ao cinema por levar frequentemente a
previsíveis comentários sobre aquilo que, presente ou ausente no texto literário
original, “faltaria ou sobraria” na adaptação cinematográfica. A matéria
cinematográfica é, em geral, construída com extrema liberdade a partir de uma
interpretação livre daquilo que importa ao adaptador do texto literário."
Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia,
que pertence a menos gente
mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia
foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.
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