Skip to main content

O dia em que o terrorismo nasceu

Adoramos imaginar nascimentos e mortes para as coisas da cultura, encontrar ali na linha do tempo na num momento certo o aparecimento de uma novidade ou o desaparecimento do passado na história. Na verdade a cultura é sempre coletiva e as coisas dela nunca propriamente terminam nem começam.

Imaginemos, mesmo assim.

22 de abril de 1915, começa a segunda série de batalhas entre forças francesas/britânicas e alemãs pelo controle da cidade de Ypres na Bélgica, perto da França. No ano interior já 100 mil soldados dos dois lados tinham morrido futilmente disputando o mesmo lugar na mesma fronteira. Dessa segunda vez as forças alemãs inovam e lançam de seus aviões cloro em gás para forçar o inimigo para fora das suas trincheiras. Mais ou menos seis mil soldados franceses, marroquinos e argelinos morreram por causa do gás ou na carnificina que se seguiu no campo de batalha.

Os inimigos dos alemães não demorariam muito em também usar o mesmo expediente de guerra: gases venenosos lançados de aviões, guerra química. Estava definitivamente decretado o fim daquela velha guerra que colocava frente a frente soldados de dois exércitos, se enfrentando em nome de dois grupos, impérios ou estados nacionais. Podemos imaginar, portanto, nascia naquele dia de primavera uma nova guerra que engendrou o que chamamos hoje de terrorismo.

Seria tentador imaginar que as guerras antes dessa "guerra das guerras" eram um concurso de bravura entre heróis galantes. A vontade de aniquilação total de um inimigo, abençoada ou não por um Jeová desses da vida, envolve coragem, sem dúvida, mas um tipo de coragem singular, que se mistura muito rapidamente com a mais vil das covardias. De qualquer maneira o sentimento genuíno de muitos que escreveram sobre a Primeira Guerra Mundial era de que o ser humano tinha chegado no fim do poço. Anos e anos zanzando em volta de uma linha quase fixa de fronteira entre inimigos encafifados em buracos morrendo feito moscas. Mas o que parecia o fundo do poço, era só o começo de um novo poço, que nos levaria mais e mais fundo...

Anthem for Doomed Youth

Related Poem Content Details

What passing-bells for these who die as cattle? 
      — Only the monstrous anger of the guns. 
      Only the stuttering rifles' rapid rattle 
Can patter out their hasty orisons. 
No mockeries now for them; no prayers nor bells; 
      Nor any voice of mourning save the choirs,— 
The shrill, demented choirs of wailing shells; 
      And bugles calling for them from sad shires. 

What candles may be held to speed them all? 
      Not in the hands of boys, but in their eyes 
Shall shine the holy glimmers of goodbyes. 
      The pallor of girls' brows shall be their pall; 
Their flowers the tenderness of patient minds, 
And each slow dusk a drawing-down of blinds.

Comments

Popular posts from this blog

Diário do Império - Antenado com a minha casa [BH]

Acompanho a vida no Brasil antes de tudo pela internet, um "lugar" estranho em que a [para mim tenebrosa] classe m é dia brasileira reina soberana, quase absoluta, com seus complexos, suas mediocridades e sua agressividade... Um conhecido, daqueles que ao inv és de ter um blogue que a gente visita quando quer, prefere um papel mais ativo, mandando suas "id éias" para os outros por e-mail, me enviou o texto abaixo, que eu vou comentar o mais sucintamente possível: resolvi a partir de amanh ã fazer um esforço e tentar, al ém do blogue, onde expresso minhas "id éias" passivamente, tentar me comunicar diretamente com as pessoas por carta... OS ALUNOS DE UNIVERSIDADES PARTICULARES DERAM UMA RESPOSTA; E A BRIGA CONTINUOU ... 1 - PROVOCAÇÃO INICIAL Estudar na PUC:............... R$ 1.200,00 Estudar no PITÁGORAS:..........R$ 1.000,00 Estudar na NEWTON:.....R$ 900,00 Estudar na FUMEC:............ R$600,00 Estudar na UNI-BH:........... R$ 550,00 Estudar na

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p

Protestantes e evangélicos no Brasil

1.      O crescimento dos protestantes no Brasil é realmente impressionante, saindo de uma pequena minoria para quase um quarto da população em 30 anos: 1980: 6,6% 1991: 9% 2000: 15,4%, 26,2 milhões 2010: 22,2%, 42,3 milhões   Há mais evangélicos no Brasil do que nos Estados Unidos: são 22,37 milhões da população e mais ou menos a metade desses pertencem à mesma igreja.  Você sabe qual é? 2.      Costuma-se, por ignorância ou má vontade, a dar um destaque exagerado a Igreja Universal do Reino de Deus e ao seu líder, Edir Macedo. A IURD nunca representou mais que 15% dos evangélicos e menos de 10% dos protestantes como um todo. Além disso, a IURD diminuiu seu número de fiéis   nos últimos 10 anos de acordo com o censo do IBGE, ao contrário de outras denominações, que já eram bem maiores. 3.      Os jornalistas dos jornalões, acostumados com a rígida hierarquia institucional católica não conseguem [ou não tentam] entender muito o sistema