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Diário da Babilônia: Eleições presidenciais de 2016, parte 1

Foto minha: Fábrica abandonada
 1. Um país atravessa complexas mudanças econômicas que produzem uma brutal concentração de renda com a combinação de um quase desaparecimento de empregos na indústria [eliminados por máquinas automatizadas ou exportados para outros países com mão-de-obra mais barata], um longo processo de redução na taxação do capital, uma educação pública dilapidada, uma saúde pública inexistente e conflitos militares de altíssimo custo que se arrastam por quinze anos sem qualquer perspectiva de resolução. Não é de se espantar que nesse país viva uma grande massa de gente muitíssimo amargurada com toda essa situação, principalmente quando a situação significa passar pela dura experiência concreta do empobrecimento. 

Foto minha: Outra fábrica abandonada
 2. Dentro dessa massa de gente tentando se segurar para não cair na pobreza, um grupo considerável que recebe diariamente, via redes sociais, rádio ou televisão, uma dose constante de um agressivo discurso populista e conservador. Essas vozes berram mais ou menos a seguinte explicação para esses tempos difíceis: 
- Gentes de outros países, outras religiões, outras culturas e outras raças estão nos invadindo sub-repticiamente e nos explorando descaradamente!!! 
- O estado nada mais é que o facilitador dessa e de outras malandragens!!!
- Os pé-rapados de pele escura e/ou seus aliados nas elites das universidades detestam vocês e seus valores e querem que vocês sejam destruídos.
Foto minha: Mais uma fábrica abandonada
  

Foto Minha: Outra vez, fábrica abandonada
3. O sistema político constituído hesita entre continuar apertando o acelerador do enfraquecimento do estado e da concentração de renda, abraçar um reformismo tímido que sustenta que bastam ajustes e tudo fica muito bem e uma completa paralisia numa queda de braço feroz entre os dois partidos políticos dominantes. Os muitos eleitores insatisfeitos com essas três posições buscam ativamente alternativas e os dois partidos que efetivamente controlam completamente a vida política do país passam aperto nas suas convenções com candidatos de fora de suas lideranças tradicionais. Um dos dois partidos, dividido entre inúmeros candidatos fanáticos e estridentes, entra em colapso e não consegue impedir a escolha de uma das figuras mais bizarras daquela festa estranha com gente esquisita. 

Foto minha: Parede de outra fábrica abandonada




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