Skip to main content

Recordar é viver: Luta Desarmada


Paulo de Tarso Celestino 1944-1971
"O Paulo [de Tarso Celestino] era moderado. [...] Ele era contra toda radicalização. Mas foi acuado pela ditadura de fio a pavio, escondeu-se e em seguida participou da luta armada. Acabou assassinado debaixo de uma tortura atroz naquela sinistra casa de Petrópolis. Foi um pouco o que poderia ter ocorrido com vários de nós e o que aconteceu com Honestino Guimarães, nosso sucessor na Feub. Outros não foram mortos, mas foram torturados, presos, tiveram que se esconder, e suas vidas sofreram graves transtornos. Nas ditaduras, na América Latina ou no resto do mundo,  você nem sempre escolhe a forma de fazer oposição. As circunstâncias e a própria repressão empurram às vezes parte dos oposicionistas para a clandestinidade e a luta armada. Quando vejo gente desinformada ou de má-fé dizer que Dilma “escolheu” a luta armada na sua juventude, acho um absurdo. Por que é que só teve luta armada no Brasil durante a ditadura, e não no regime constitucional, ao contrário do que aconteceu noutros países latino-americanos ou europeus? Por causa da ditadura, foi a ditadura que perseguiu uma parte dos oposicionistas e os empurrou para a luta armada."

Luiz Felipe Alencastro em entrevista a Estudos Históricos

Comments

Popular posts from this blog

Contos: "O engraçado arrependido" de Monteiro Lobato

Monteiro Lobato conta em "O engraçado arrependido" a história trágica de um homem que não consegue se livrar do papel de palhaço da cidade, papel que interpretou com maestria durante 32 anos na sua cidade interiorana. Pontes é um artista, um gênio da comédia e por motives de espaço coloco aqui só o miolo da introdução em que o narrador descreve o ser humano como “o animal que ri” e descreve a arte do protagonista: "Em todos os gestos e modos, como no andar, no ler, no comer, nas ações mais triviais da vida, o raio do homem diferençava-se dos demais no sentido de amolecá-los prodigiosamente. E chegou a ponto de que escusava abrir a boca ou esboçar um gesto para que se torcesse em risos a humanidade. Bastava sua presença. Mal o avistavam, já as caras refloriam; se fazia um gesto, espirravam risos; se abria a boca, espigaitavam-se uns, outros afrouxavam os coses, terceiros desabotoavam os coletes. E se entreabria o bico, Nossa Senhora! eram cascalhadas, eram rinchavelhos, e...

Poema meu: Saudades da Aldeia desde New Haven

Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia, 
 que pertence a menos gente 
 mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia 
 foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está, 
 a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.

Uma gota de fenomenologia

Esse texto é uma homenagem aos milhares de livrinhos fininhos que se propõem a explicar em 50 páginas qualquer coisa, do Marxismo ao machismo e de Bakhtin a Bakunin: Uma gota de fenomenologia Uma coisa é a coisa que a gente vive nos ossos, nos nervos, na carne e na pele; aquilo que chega e esfria ou esquenta o sangue do caboclo. Outra coisa bem outra é assistir essa mesma coisa, mais ou menos de longe. Nem a mãe de um caboclo que passa fome sabe o que é passar fome do jeito que o caboclo que passa fome sabe. A mãe sabe outra coisa, que é o que é ser mãe de um caboclo que passa fome. Isso nem o caboclo sabe: o que ela sabe é dela só, diferente do caboclo e diferente do médico que recebe o tal caboclo e a mãe dele no hospital. O médico sabe da fome do cabloco de um outro jeito porque ele já ficou mais longe daquela fome um tanto mais que a mãe e outro tanto bem mais que o caboclo. O jeito que o médico sabe da fome daquele caboclo pode ser mais ou menos só dele ainda, mas isso só se ele p...