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Natalia Lafourcade: finalmente um tesouro da música mexicana

Natalia Lafourcade começou a aparecer no começo do século, com uma canção bem típica do pop mexicano:



Confesso que não me interessei muito. Entendia, reconhecia a qualidade da letra e da execucão, mas achava um pouco bonitinho demais, planejado demais para o meu gosto. Era o anúncio de que ela não era mais presa fácil da máquina de produzir sucessos adolescentes [comparada com a máquina de produzir sucessos adolescentes dos anos 60, dá dó - quanto mais controle mais desanda a fórmula que um dia nos deu aqueles Beatles de "She Loves You"]. No refrão dizia:

Ya no soy, ya no soy
La infantil criatura, la inocencia se acabó
Ya no soy, ya no soy
La de ese cuerpo extraño
Ahora siente el corazón

Depois ela se juntou a um dos membros do Café Tacvba e lançou um lance meio Bossa-Nova de gringo chamado Natalia y La Forquetina. Era bonitinho:



E às vezes até interessante:



No refrão:

No se pueden quejar soy un ser humano!
No me puedo quejar estoy condenado!

Ninguém pode negar que ela sabia cantar e às vezes fazia coisas bem interessantes como "Tiempo al viento" de 2010:



Mas quem diria que eu finalmente me interessaria para valer no trabalho dela depois de quinze anos! Quando ela resolveu se debruçar sobre o cancioneiro mexicano sem aquelas gritarias lacrimosas dos Luises Miguéis da vida e seus arranjos barangosos, Natalia Lafourcade chegou mais longe, além do bem feito. Agustín Lara e companhia tem um tesouro de canções que não deixam nada a desejar ao baú de tesouros que os grandes artistas da MPB escarafuncham de tempos em tempos. Abaixo um pequeno show [uma série da rádio pública dos Estados Unidos] com quatro canções dessa fase maravilhosa:

Comments

Amo essa apresentação dela na rádio pública americana. Amo toda essa veia de música tradicional mexicana dos últimos trabalhos dela. Há algum tempo atrás, mostrei uma apresentação dela lá em casa e a mãe disse que ela tem o carisma da Elis. Achei a comparação inusitada, mas concordei. (tata)
Pois é, Tata. Eu acho que ela subiu para um outro patamar com esse trabalho, né? E é sempre bom olhar para o acervo incrível de canções de Agustín Lara e companhia. Foi um desses momentos luminosos em que a música no mercado de massa consegue manter sutileza, sentimento e apelo popular.

Curiosa a associação com a Elis, no quesito carisma/presença. Tinha umas horas [só aqui entre nós] que eu achava a Elis um pouquinho orgulhosa demais da potência/precisão da voz dela. Acho que é preciosismo da minha parte, talvez.

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