Anne Enright é uma escritora irlandesa contemporânea e não deve nada aos grandes escritores dessa tradição tão rica e tão viva da lingua inglesa. Li uma série curta de ensaios dela que ela escreveu sob o impacto da gravidez e do nascimento da sua primeira filha. A série chamada Babies [na verdade fragmentos de um livro dela chamado Making Babiesi] me tocou profundamente pela maneira sensível e ao mesmo tempo avessa aos clichês cafonas ou engraçadinhos que costumam proliferar nesse tipo de texto sobre paternidade.
Abro um parêntesis necessário. Meu convívio com pessoas que optaram por não ter filhos foi muito positivo para me alertar sobre a tolice de sair empilhando superlativos para descrever uma experiência pessoal e intransferível, falsificando uma ideia de que a paternidade é boa para todo mundo em qualquer situação o tempo todo. Claro que isso não impede que alguém escreva sobre suas experiências e consiga compartilhá-las sem fazer cabotinismo. Não se trata de qualquer tipo de censura. Além das hipocrisias e moralismos sentenciosos e pequeno-burgueses que entopem as redes sociais, o convívio com pessoas diferentes da gente nos alerta para os nossos pontos cegos e nossas babaquices involuntárias. Fecho o parêntesis.
Enright já começa com uma série altamente irônica de pedidos de desculpas ["Apologies All Around"]:
Daí Enright começa a falar de coisas que talvez sejam consideradas "de mal-gosto": as implicações fisiológicas da gravidez e do parto a partir de uma perspectiva bem direta e franca. Lá pela metade desse início tão finamente irônico ela comenta:
"Esses textos foram teclados com pressa. Eles foram escritos ao som da respiração de um bebê dormindo" (3).
Abro um parêntesis necessário. Meu convívio com pessoas que optaram por não ter filhos foi muito positivo para me alertar sobre a tolice de sair empilhando superlativos para descrever uma experiência pessoal e intransferível, falsificando uma ideia de que a paternidade é boa para todo mundo em qualquer situação o tempo todo. Claro que isso não impede que alguém escreva sobre suas experiências e consiga compartilhá-las sem fazer cabotinismo. Não se trata de qualquer tipo de censura. Além das hipocrisias e moralismos sentenciosos e pequeno-burgueses que entopem as redes sociais, o convívio com pessoas diferentes da gente nos alerta para os nossos pontos cegos e nossas babaquices involuntárias. Fecho o parêntesis.
Enright já começa com uma série altamente irônica de pedidos de desculpas ["Apologies All Around"]:
"A fala é um ato egoísta, portanto as mães deviam permanecer em silêncio. Quando um desses ensaios, sobre a gravidez, apareceu na revista do jornal The Guardian as reações na seção de cartas dos leitores foi feroz. Quem ela pensa que é? and Por quê nós devemos ser obrigados a ler sobre as suas entranhas? and Não seria melhor se ela estivesse escrevendo sobre o sofrimento de um aborto involuntário?
Então eu gostaria de pedir desculpas a todos antes de qualquer coisa. Desculpas. Desculpas. Desculpas. Desculpas."
Daí Enright começa a falar de coisas que talvez sejam consideradas "de mal-gosto": as implicações fisiológicas da gravidez e do parto a partir de uma perspectiva bem direta e franca. Lá pela metade desse início tão finamente irônico ela comenta:
"Esses textos foram teclados com pressa. Eles foram escritos ao som da respiração de um bebê dormindo" (3).
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