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Como cheguei ao poema português do post anterior

Lá estava eu fuçando a primeira versão do conto de Machado de Assis no jornal Gazeta de Notícias quando dou de cara com uma epígrafe que não aparece quando o conto é publicado em livro.

Coisa rara. Fico impressionado como os contos sofrem pouquíssimas, às vezes nenhuma mudança entre a versão do jornal e a do livro. Coisa de temperamento artístico. Outro cuidadoso bordador de contos, Guimarães Rosa, levava à loucura seus editores com 1001 mudancinhas até o último momento. O Sagarana que compramos hoje na livraria [que livro!] foi revisado consideravelmente antes e depois da publicação, até [cito de memória] a quinta edição entrando nos anos 60.

A epígrafe dá uma pista sobre a leitura do próprio Machado do seu conto. Não sou especialista em literatura do século XIX, mas não conheço estudo mais sutil do desejo numa senhora idosa que D. Paula. Levando-se em conta a maneira como o comportamento feminino fora das medidas rígidas pequeno-burguesas é sempre punido com tuberculoses, suicídios e outras desgraças além de doses cavalares de culpa cristã, penso na ousadia de Machado ao falar na primeira página do Gazeta de Notícias [que jornal!] sobre uma mulher que na juventude teve um tórrido romance extra-conjugal, tirando dele uma profunda satisfação e saindo dele sem qualquer sanção:

"... foi uma sucessão de horas doces e amargas, de delícias, de lágrimas, de cóleras, de arroubos, drogas várias com que encheram a esta senhora a taça das paixões. D. Paula esgotou-a inteira e emborcou-a depois para não mais beber."


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