Encontro lá nos confins da minha parca cultura clássica Germania, um livro fascinante que me deu a impressão de ser marcado pela dúvida. Os especialistas discutem até hoje se Tácito escreveu Germania como argumento a favor ou contra a invasão e colonização da Germânia pelo Império Romano.
Trago para cá dois momentos significativos para mim.
1. Descrevendo os atributos naturais da terra, Tácito diz o seguinte sobre a falta de prata e ouro naquelas terras além do império:
Argentum et aurum propitiine an irati di negaverint dubito.
Trago para cá dois momentos significativos para mim.
1. Descrevendo os atributos naturais da terra, Tácito diz o seguinte sobre a falta de prata e ouro naquelas terras além do império:
Argentum et aurum propitiine an irati di negaverint dubito.
Prata e ouro os deuses lhes negaram, não sei se por piedade ou por ira.
Quando a Petrobrás descobriu reservas imensas de petróleo no chamado pré-sal, muitos brasileiros comemoraram. Seria uma imensa fonte de riqueza, o ouro negro, iria nos ajudar a expandir e impulsionar a educação de todos, marca de um desenvolvimento humano que deveria mas não costuma acompanhar o tão prezado crescimento econômico.
Depois disso tivemos um golpe parlamentar absurdo e um processo espúrio que levou um ex-presidente à prisão, tudo assistido com entusiasmo e devoção por um sarampão de alucinados com medo de serem convertidos ou contaminados pela homossexualidade alheia ou serem escravizados por um regime socialista soviético [implantado a partir da ideia "revolucionária" de escolher para diretor do Banco Central um executivo do BankBoston.
Hoje temos um governo que chama educação de doutrinação ou balbúrdia. Vendemos os direitos de exploração do petróleo sem exigir contrapartidas e o dinheiro [uma fração do que se antecipava] vai talvez sumir nos ralos de Brasília. Enquanto isso, um outro petróleo, que ninguém sabe de onde vem até agora, destrói a costa do Brasil.
2. Lá para o final de Germania, Tácito escreve sobre os bárbaros dos bárbaros, os fenianos que vivem espalhados pelas florestas entre o que é hoje Polônia e Lituânia. Os fenianos não são donos de nada: nem boas armas, nem cavalos, nem casas. Comem o que encontram na floresta; dormem no chão com galhos trançados por cima; fazem flechas com pontas de osso pois não dominam o ferro.
Aí vem o incrível fecho do capítulo:
Securi adversus homines, securi adversus deos rem difficillimam adsecuti sunt; ut illis ne voto quidem opus esset.
A salvo dos outros seres humanos e a salvo dos deuses, os fenianos conseguiram algo infinitamente difícil: não tem motivos para rezar.
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