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Recordar é viver: sentidos do meu trabalho

Hoje há uma ruína na Praça Jornal do Comércio, delimitado pela Avenida Barão de Tefé, Rua Sacadura Cabral e pelo limite lateral do Hospital dos Servidores do Estado, no número 178 da Rua Sacadura Cabral. São restos de um cais de pedra, construído a partir de 1811, para o desembarque de africanos escravizados, no porto do Rio de Janeiro. Por ali chegaram mais ou menos 1milhão de pessoas, 25% de todos os africanos sequestrados e depois escravizados nas Américas. Isso faz do Valongo o maior porto escravagista da história da humanidade. Escondido por baixo da reforma de 1843 que o transformou em Cais da Princesa, o porto recebeu a princesa napolitana Tereza Cristina de Bourbon, esposa do Imperador Dom Pedro II. Aterros feito com a terra dos morros do centro do Rio acabaram de enterrar essa história até recentemente.

“O enfermeiro” foi publicado por Machado de Assis pela primeira vez na Gazeta de Notícias de 13 de julho de 1884. O conto se passa em 1860 e o narrador se chama Procópio Valongo. Alguma dúvida sobre a relevância da referência? Isso não impediu que muitos escrevessem sobre o conto sem fazer qualquer referência a alusão tão clara e forte. É um exemplo do que poderíamos chamar de racismo por apagamento, especialidade brasileira. O meu trabalho, no que concerne à questão, é desapagar, sempre. Foi com essa ideia que escrevi esse artigo sobre três contos, "O enfermeiro" e ainda um conto de Lima Barreto e outro de Monteiro Lobato. 

Lendo os três contos juntos aprendi bastante sobre o afro-brasileiro que realmente incomoda o Brasil, aquele que avança socialmente e começa a frequentar certos espaços que se querem exclusivos. 


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