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Diário da quarentena no fim de Minas Parte I

Há tanto silêncio quanto barulho aqui.
Cinco horas da tarde, faça chuva ou faça sol, seja feriado, domingo ou segunda, as vacas caminham pelas ruas mugindo baixinho em direção ao estábulo que fica no outro quarteirão. Minha cadelinha entra em desespero e começa a latir. Se alguém tiver esquecido o portão de casa aberto, ela foge e avança nas vaquinhas que respondem com coices que nunca acertam o alvo. Dia desses fui tentar pegá-la e quase levei chifrada.
No terreno vizinho existe uma pequena matinha que o proprietário tentou arrancar. Ele não usou motosserra na tentativa, não. Ele usou calcário e bodes. Foi multado, mas não pagou e talvez nunca pague. O calcário sumiu. A mata está  verde. Os bodes ainda estão lá. E como berram!
Há uma estradinha rural ao término da rua. Vejo carros passarem. Placas do Rio de Janeiro, do Espírito Santo, de São Paulo e Brasília. Ao que tudo indica, as pessoas já estão fugindo para os montes. E trazem consigo um vírus bárbaro invisível. Já são três mortes confirmadas.
Mês passado eu fui ao supermercado com a mãe. Estávamos de máscara. Um senhor se sentiu ofendido com a nossa cautela e começou a fazer discurso político contrário ao isolamento como se não fosse pra nós.
Hoje, desci para o centro de carro. Todos na rua usavam máscara. Umas protegiam o queixo, outras o nariz e ainda havia algumas enroladas no pescoço do ser humano enquanto ele tomava sorvete. Temos uma UTI com respirador e, até onde eu sei, nenhum médico especialista em cuidados intensivos. O fim do mundo se aproxima.

R.M.C.

Comments

Infelizmente as pessoas que vão caindo na real o fazem depois de se contaminar ou ver alguém próximo contaminado. O tal sujeito, por exemplo, talvez esteja usando máscara agora, mas se expôs e expôs várias pessoas antes. De qualquer maneira é melhor estar recolhido a essas alturas, né? Quanto menor a cidade, melhor.

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