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Gonçalves Dias, patrono dos letristas da MPB

A caricatura

Na caricatura, como em outras imagens, Gonçalves Dias parece um romântico francês. Observem a diferença com relação à foto abaixo. Não preciso nem comentar mais, né?

Quem conhece as letras de grandes canções de Pixinguinha, Cartola ou Nelson do Cavaquinho, às vezes se deixa enganar por quem diz que eram parnasianas. Isso demonstra desconhecimento do poesia parnasiana. O primeiro grande poeta musical do Brasil é Gonçalves Dias. Não conto aqui com Domingos Caldas Barbosa, porque este era mais que tudo letrista mesmo. E indico a sua precedência com relação a Castro Alves, que era muita vezes mais bombástico, mas, nos seus momentos mais líricos, também era um grande "letrista".

Várias estrofes de Gonçalves Dias me parecem muito adequadas para a música brasileira do século XX. Fico, na brevidade daqui, com apenas dois exemplos. O homem era fera musical em dois metros fundamentais para o português. Os decassílabos, um pouco mais lentos e introspectivos:

Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Devaneio, ilusão, que se esvaece
Ao som final da orquestra, ao derradeiro


O homem era mais fera ainda nas redondilhas, verso da oralidade por excelência: 
A foto

Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

Comments

O que Gonçalves Dias faz com a métrica e o ritmo em I-Juca Pirama não tem paralelo na língua. Está entre os níveis mais altos da literatura no que toca à conjunção tema + forma.
O cara é bom, mas bom demais, não é, André? Estou de cara nessa revisitada a ele. Muito, mas muito mais que "Canção do Exílio"...

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