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Showing posts from August, 2010

Meu Pitado - Parte 3

[ Imagens : à sua esquerda Washington Luís espana a casaca e faz cara de mau enquanto chama o MST de “ caso de polícia ” e à sua direita Carlos Lacerda faz biquinho contra o “mar de lama” e a “ república sindicalista ”. Ambos acabaram caindo do cavalo ...] Estamos longe do suficiente principalmente porque grande parte da conversa sobre política no Brasil é uma conversa pseudo- política , obcecada na realidade com a questão da honestidade pessoal . É claro que não tenho nada contra a fiscalização e a punição de casos de corrupção , mas no Brasil nós acabamos transformando a questão política em questão de polícia , reciclando de certa maneira o slogan nefasto de Washington Luís sobre a questão social nos anos 20. Transferida especificamente para as eleições para deputado e senador , essa preocupação udenista com a falta de honestidade dos deputados faz com que p...

Meu Pitado - Parte 2

[Imagem: poderes legislativo e executivo flagrados em pleno momento de simbiose.] II Mas aqui, no meu canto, eu queria me limitar a um só [que dividi em quatro partes para não cansar]: Numa democracia, o presidente indica uma certa direção mas o congresso com o qual ele vai governar DETERMINA até onde ele pode ir. Nos últimos 16 anos temos tido dois presidentes que foram acusados de safadeza, timidez, cara de pau, covardia, incompetência e por aí vai. Pouca gente pensa que tudo o que eles fizeram [e deixaram de fazer] traz a marca do congresso nacional com o qual eles governaram. E é bom que seja assim porque estamos em uma democracia e todos foram eleitos. Os debates, análises, conversas, piadas, chiliques e que tais na imprensa [e mesmo nos blogues] são quase que invariavelmente direcionados à eleição presidencial e fora algum artigo pitoresco sobre um candidato com propostas ou currículos esdrúxulos [às vezes os dois] fala-se muito pouco das eleições parlamentares....

Meu pitaco [em quatro partes]

[imagem: flagrante do debate em que Dilma e Serra brigam por um sorvete no pátio da escola e ameaçam polarizar as eleições.] I Enquanto os jornais brasileiros se esgoelam noticiando as pesquisas de opinião e mandando gravações dos candidatos para terem ser sorrisos analisados por “especialistas” [em sorrisos, não em política], a melhor discussão dessa eleição está acontecendo nos blogosfera. Na minha lista de favoritos, seis: Biscoito Fino e a massa, Guaciara, NPTO, Consenso só no paredão, Catatau e João Vilaverde. Em primeiro lugar neles você logo sabe o que os caras pensam – ninguém fica fingindo que todos os candidatos são iguais e que tanto faz quem vai vencer. E nem por isso deixa de haver muito espaço para informação útil, além da cobertura lesada que os jornais fazem da eleição. Em outras palavras nada de: “X fez comício ali, Y beijou criancinhas de colo acolá e Z deu entrevista na Associação dos Baleiros de BH” ou “X disse que Y é feia, Y disse que Z é um bobo e Z disse que...

Ironias da vida acadêmica, ou “também com o pai que eu tinha…”

O professor Marc Hauser é diretor do Laboratório de Evolução Cognitiva de Harvard, e se meteu em apuros por algo que a gente poderia chamar de “dopping acadêmico” – a própria universidade acaba de admitir que realmente a pesquisa de Hauser estava cheia de furos, digamos, “convenientes”, que levavam aos resultados que ele queria. A ironia é que o livro mais conhecido de Hauser chama-se “Moral Minds: How Nature Designed Our Universal Sense of Right and Wrong” [pode ver a ilustração para ver que não estou inventando]. A essa ironia some-se outra: o eminente professor está de licença, trabalhando num novo livro chamado “Evilicious: Why We Evolved a Taste for Being Bad”... Em face da farsa acadêmica no tal laboratório, os títulos dos dois livros parecem uma nova versão daquela história dos dois filhos do alcoólatra. Um deles também era alcoólatra e explicava: “também, com o pai que eu tinha…”. Enquanto isso o outro, que nunca tocava uma bebida, explicava sua abstinência dizendo, “também, co...

Nada ao mesmo tempo aqui e agora

[foto: Duane Hanson , Tourists II , 1988 , fibreglass and mixed media, with accessories] A mania de falar no celular o tempo todo e de tirar fotografias de tudo me parece sinais de uma incapacidade das pessoas de viver o lugar e o momento presentes. O sujeito está na rua conversando com a mulher que ficou em casa e ignorando o amigo logo ao lado ou está em casa conversando com o amigo que está na rua e ignorando a mulher sentada do outro lado da mesa de jantar. E vejo com frequência turistas que parecem mais preocupados em registrar rapidamente as coisas que "viram", quase que só pelo enquadramento estreito da tela da máquina, para então seguir enfrente [“pronto, já conheci o Central Park”] e registrar que “viu” muitas outras coisas "importantes", tirando literalmente duzentas fotografias que talvez nunca consigam ver.

UBU

[Imagem: "Auto-Retrato" de Francis Bacon] "A alma é um tique nervoso." Alfred Jarry

De volta a Lydia Davis

Eis o primeiro parágrafo de "The Sock", conto de Lydia Davis: "My husband is married to a different woman now, shorter than I am, about five feet tall, solidly built, and of course he looks taller than he used to and narrower, and his head looks smaller. Next to her I feel bony and akward and she is too short for me to look her in the eye, though I try to stand or sit at the right angle to do that. I once had a clear idea of the sort of woman he should marry when he married again, but none of his girlfriends was quite what I had in mind and this one least of all." Há quem acuse Lydia Davis de explorar detalhes da sua vida pessoal com Paul Auster, com quem ela foi casada de 74 a 78 e teve um filho. A narradora se separou e tem um filho com o ex-marido que vai se casar de novo, mas não há nomes nem detalhes específicos aqui. Como eu não sei nada além do fato de que eles foram casados, tiveram um filho e se separaram e não posso simplesmente tomar esse conto como fonte...

Última parte: la perra y los conejos en la granja

5. Os cronistas As canções populares que contam essa tragédia são chamadas no México de narcocorridos música feita e consumida por gente de origem humilde do norte do México. O governo e os guardiões da ordem e da moral os acusam de apologia ao crime, ainda que eles, em geral, simplesmente relatem histórias de personagens e eventos verídicos – se há heroísmo ele é de tom trágico mas que épico, porque na maioria das vezes o personagem principal termina morto ou preso. O corrido é uma adaptação da antiga tradição da balada, uma longa canção rimada e sem refrão que conta uma história e foi muito popular como forma de popularização dos grandes mitos da revolução mexicana. Já falei sobre o conjunto mais famoso desse tipo de música hoje em dia, Los Tigres del Norte. Eles fizeram um narcocorrido bem atípico, uma análise da crise atual que foge dos lugares comuns moralistas sob a forma de uma alegoria: Los Tigres Del Norte - La Granja - Awesome video clips here Granja: México La perra [a cach...

Ainda sobre o tráfico. Os fornecedores de armas são os consumidores

Entre 2004 e 2008, o Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (ATF) do departamento de justiça dos Estados Unidos fez um levantamento detalhado usando uma porção significativa das 23.000 armas de fogo confiscadas pelas autoridades mexicanas. 87% delas vinham dos Estados Unidos. Entre 2006 e 2008, esse número sobre até 90%. 70% dessas armas vêm do Texas [39%], California [20%] e Arizona [10%]. Calcula-se que mais ou menos 2.000 armas atravessam a fronteira por dia, 730.000 por ano. Para quem pensa que uma legalização das drogas nos Estados Unidos criaria uma multidão de zumbis enlouquecidos por cocaína, heroína e crack, vejamos alguns dados recentes: - Mais ou menos 8% da população americana diz que usou algum tipo de droga ilegal nos últimos 30 dias. - Mas mais da metade desses 8% fumaram maconha. - Mesmo assim, sobra uma multidão de 8.5 milhões de pessoas que usou outras drogas. Mas nesse resto, a maioria (6 milhões) tomou algum tipo de remédio para ficar doidão. -...

Porque eu sou a favor da legalização das drogas 2

Os matadores Um dos grupos mais violentos envolvidos no conflito no México são os Zeta . Até anos 90 eles eram parte da unidade de operações especiais do exército mexicano chamada “el Grupo Aeromóvil de Fuerzas Especiales” (GAFE), treinado em táticas militares por experts estrangeiros na mobilização contra o narcotráfico. Aí que resolveram trocar de lado, inicialmente trabalhando a serviço do Cartel do Golfo. Hoje os Zetas estão espalhados pelo México inteiro e, dizem, mesmo nos Estados Unidos.

Porque eu sou a favor da legalização das drogas 1

Os mortos No México a Guerra ao Narcotráfico foi declarada pelo presidente Felipe Calderón logo que tomou posse em uma eleição [aliás contestadíssima]. Logo se percebeu que o termo "guerra" não era apenas um slogan exagerado de um governo em busca de afirmação ou uma bravata de campanha eleitoral. Exército e polícia federal subiram em peso para o norte do país e começou a carnificina: desde 2006 morreram 28.000 mexicanos no conflito, 5.000 desde junho passado.

Vendedores

Uma vez, há séculos atrás, traduzi um texto de administração de empresas que falava sobre o perfil ideal do vendedor. O bom vendedor precisava de uma grande dose de empatia e de simpatia: ela tinha que ser capaz de entender o ponto de vista do cliente e de transmitir essa sua compreensão ao cliente, que se sentiria assim compreendido e respeitado. Mas esses dois componentes não bastavam. O bom vendedor precisava de um complemento indispensável: o "killing instinct", o instinto assassino que faz com que o ele complete uma venda mesmo quando sua empatia o faça compreender que o que ele está vendendo não é o que o cliente quer ou pode comprar. Minha experiência com vendedores nos Estados Unidos e no Brasil, principalmente quando de se trata de compras grandes e complexas [casa e carro, por exemplo] tem sido marcada por esse tal "killing instinct" cada vez mais exacerbado, mais irresponsável, mais agressivo. Esse vídeo que investigadores mostraram no inquérito do congre...

Um olhar estrangeiro sobre a questão

Mas interessante do que informativo o artigo do Chronicle of Higher Education sobre o debate sobre quotas raciais no Brasil. Vale a pena ler também os comentários dos leitores americanos. Já deu minha opinião aqui sobre o assunto e só volto a dizer três coisas: 1. Ações afirmativas não se reduzem somente a quotas; 2. Seria ótimo ver, portanto, a discussão a várias outras políticas de ação afirmativa; 3. O Brasil precisa encontrar seu próprio caminho, o que não quer dizer ficar enrolando mais cem anos sobre três questões relacionadas mas não equivalentes: o racismo, a discriminação e a desigualdade racial.