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Nada ao mesmo tempo aqui e agora


[foto:Duane Hanson, Tourists II, 1988, fibreglass and mixed media, with accessories]

A mania de falar no celular o tempo todo e de tirar fotografias de tudo me parece sinais de uma incapacidade das pessoas de viver o lugar e o momento presentes. O sujeito está na rua conversando com a mulher que ficou em casa e ignorando o amigo logo ao lado ou está em casa conversando com o amigo que está na rua e ignorando a mulher sentada do outro lado da mesa de jantar. E vejo com frequência turistas que parecem mais preocupados em registrar rapidamente as coisas que "viram", quase que só pelo enquadramento estreito da tela da máquina, para então seguir enfrente [“pronto, já conheci o Central Park”] e registrar que “viu” muitas outras coisas "importantes", tirando literalmente duzentas fotografias que talvez nunca consigam ver.

Comments

Linda foto.
As esculturas desse cara são impressionantes!
Caro Paulo: há uma reflexão filosófica interessante em curso sobre o turista, esse novo "cidadão cosmpolita" - Agamben e Sloterdijk já se debruçaram sobre essa figura. Mas creio que o diagnóstico definitivo sobre o turista é de Oswald de Andrade, em A morta:

"O TURISTA – Vivem juntos? Vivos e mortos?
O POLÍCIA – O mundo é um dicionário. Palavras vivas e vocábulos mortos. Não se atracam porque somos severos vigilantes. Fechamo-los em regras indiscutíveis e fixas. Fazemos mesmo que estes que são a serenidade tomem o lugar daqueles que são a raiva e o fermento. Fundamos para isso as academias... os museus... os códigos...
O TURISTA – E os vivos reclamam?
O POLÍCIA – Mais do que isso. Querem que os outros desapareçam para sempre. Mas se isso acontecesse não haveria mais os céus da literatura, as águas paradas da poesia, os lagos imóveis do sonho. Tudo que é clássico, isto é, o que se ensina nas classes.
O TURISTA – Com quem tenho a honra de falar?
O POLÍCIA – Com a polícia poliglota
O TURISTA – Oh! que prazer! O senhor sou eu mesmo na voz passiva. Na minha qualidade de turista falo sete línguas, nesta idade! E não tenho mais governante!
O POLÍCIA – Também falo sete línguas, todas mortas. A minha função é essa mesma, matá-las. Todo o meu glossário é de frases feitas...
O TURISTA – As mesmas que eu emprego. Nós dois, só conseguimos catalogar o mundo, esfriá-lo, pô-lo em vitrine!
O POLÍCIA – Somos os guardiões de uma terra sem surpresas."

Abraço!
Preciso, Alexandre. Além do gume afiado que assustava tanta gente, Oswald realmente sabia das coisas!
Moro perto de Nova Iorque e vou lá com certa frequencia e me espanta o espetáculo de hordas de turistas mais ou menos parecidos tirando fotos de maçanetas, placas de trânsito, carrinhos de cachorro quente e filmando corredores da estação do trem e comprando todo o tipo de porcaria, sempre lotando os velhos lugares manjados de sempre. Eu quase sempre vivi em cidades sem turistas e não deixo de me espantar.

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