Eis o primeiro parágrafo de "The Sock", conto de Lydia Davis:
"My husband is married to a different woman now, shorter than I am, about five feet tall, solidly built, and of course he looks taller than he used to and narrower, and his head looks smaller. Next to her I feel bony and akward and she is too short for me to look her in the eye, though I try to stand or sit at the right angle to do that. I once had a clear idea of the sort of woman he should marry when he married again, but none of his girlfriends was quite what I had in mind and this one least of all."
Há quem acuse Lydia Davis de explorar detalhes da sua vida pessoal com Paul Auster, com quem ela foi casada de 74 a 78 e teve um filho. A narradora se separou e tem um filho com o ex-marido que vai se casar de novo, mas não há nomes nem detalhes específicos aqui. Como eu não sei nada além do fato de que eles foram casados, tiveram um filho e se separaram e não posso simplesmente tomar esse conto como fonte de informação sobre o assunto, desse mato [fofoqueiro] eu, pelo menos, não tiro coelho.
O que me interessa nesse parágrafo de abertura do conto é a acumulação de pequenos detalhes: 1. como a narradora chama o personagem masculino de "meu marido" e não de "meu ex-marido";
2. como ela e ele mudam aos olhos dela mesma na presença da nova companheira dele;
3. como o corpo de alguém tem mesmo uma aparência relativa, sempre tomada em contraste com os que o rodeam;
4. como as observações objetivas que a narradora faz das mudanças físicas dos dois e do novo corpo que aparece agora no meio escorrega sutilmente do físico para algo menos concreto sem abandonar o corporal;
5. e como o comentário final fala de um desencontro completo entre as expectativas dela e o corportamento do "marido" sem explicar se esse desencontro é fruto de uma falha de observação ou de um desejo frustrado da narradora - possivelmente as duas coisas.
Todos esses detalhes são expostos em primeiríssima pessoa, mas sem uma "acentuação emocional" óbvia, de maneira "desinteressada", "objetiva". Assim fica mais difícil [e à medida que o conto avança muito mais] simplesmente enquadrar a situação toda em um dos vários clichês de relacionamento que condicionam o leitor numa determinada direção.
"My husband is married to a different woman now, shorter than I am, about five feet tall, solidly built, and of course he looks taller than he used to and narrower, and his head looks smaller. Next to her I feel bony and akward and she is too short for me to look her in the eye, though I try to stand or sit at the right angle to do that. I once had a clear idea of the sort of woman he should marry when he married again, but none of his girlfriends was quite what I had in mind and this one least of all."
Há quem acuse Lydia Davis de explorar detalhes da sua vida pessoal com Paul Auster, com quem ela foi casada de 74 a 78 e teve um filho. A narradora se separou e tem um filho com o ex-marido que vai se casar de novo, mas não há nomes nem detalhes específicos aqui. Como eu não sei nada além do fato de que eles foram casados, tiveram um filho e se separaram e não posso simplesmente tomar esse conto como fonte de informação sobre o assunto, desse mato [fofoqueiro] eu, pelo menos, não tiro coelho.
O que me interessa nesse parágrafo de abertura do conto é a acumulação de pequenos detalhes: 1. como a narradora chama o personagem masculino de "meu marido" e não de "meu ex-marido";
2. como ela e ele mudam aos olhos dela mesma na presença da nova companheira dele;
3. como o corpo de alguém tem mesmo uma aparência relativa, sempre tomada em contraste com os que o rodeam;
4. como as observações objetivas que a narradora faz das mudanças físicas dos dois e do novo corpo que aparece agora no meio escorrega sutilmente do físico para algo menos concreto sem abandonar o corporal;
5. e como o comentário final fala de um desencontro completo entre as expectativas dela e o corportamento do "marido" sem explicar se esse desencontro é fruto de uma falha de observação ou de um desejo frustrado da narradora - possivelmente as duas coisas.
Todos esses detalhes são expostos em primeiríssima pessoa, mas sem uma "acentuação emocional" óbvia, de maneira "desinteressada", "objetiva". Assim fica mais difícil [e à medida que o conto avança muito mais] simplesmente enquadrar a situação toda em um dos vários clichês de relacionamento que condicionam o leitor numa determinada direção.
Comments
há um impulso de controle mal disfarçado... o homem casou com alguém menor, pra parecer maior... ignorando a opinião dela... é quase um ciúme de mãe, não?
pelos trechos que você mostrou, ele parece escrever muito melhor que a mulher atual do p. auster.
(talvez ela pudesse dizer: meu marido casou com uma mulher que escreve pior que eu, assim parece que ele escreve melhor)
bacana demais o seu blog. Saudade. Entre em contato gribeiro@planetarium.com.br Saudade. Estou programando uma ida aos EUA. Quem sabe lhes visito. ()s, Gui.
E isso é só o primeiro parágrafo. A coisa fica melhor ainda depois... Ela é foda!