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Última parte: la perra y los conejos en la granja

5. Os cronistas
As canções populares que contam essa tragédia são chamadas no México de narcocorridos música feita e consumida por gente de origem humilde do norte do México. O governo e os guardiões da ordem e da moral os acusam de apologia ao crime, ainda que eles, em geral, simplesmente relatem histórias de personagens e eventos verídicos – se há heroísmo ele é de tom trágico mas que épico, porque na maioria das vezes o personagem principal termina morto ou preso. O corrido é uma adaptação da antiga tradição da balada, uma longa canção rimada e sem refrão que conta uma história e foi muito popular como forma de popularização dos grandes mitos da revolução mexicana. Já falei sobre o conjunto mais famoso desse tipo de música hoje em dia, Los Tigres del Norte. Eles fizeram um narcocorrido bem atípico, uma análise da crise atual que foge dos lugares comuns moralistas sob a forma de uma alegoria:




Granja: México
La perra [a cachorra]: narcotráfico
Abuelito: PRI, partido que esteve no poder no México desde que foi criado nos anos 30 até a eleição de Vicente Fox do PAN, partido de Felipe Calderón, em 2000.
Zorro [raposa, fox em inglês]: Vicente Fox
Puercos: deputados
Granjero: camponês mexicano
Gavilán [Gavião]: Juan Camilo Mouriño, poderoso secretário de segurança de Felipe Calderón que morreu num misterioso acidente de avião em 2008.
Pollitos [pintinhos]: jornalistas
Conejo: o traficante miúdo

Comments

Anonymous said…
Nice post and this post helped me alot in my college assignement. Gratefulness you for your information.
Muito interessante mesmo.

Esse vocabulário é conhecido de todos?
As alegorias são bem claras para todos no México, Sabina. Acho curioso porque esse é um tipo de música que existia muito no Brasil na época da censura, mas eu acho que as alusões eram obscuras demais - para fugir dos censores - para serem entendidas pelo grande público. E falando sobre censuro, ano passado Los Tigres del Norte foram convidados para tocar durante a festa de premiação de música mexicana chamado Lunas del Auditorio, patrocinado pelo Auditório Nacional, uma imensa sala de espetáculos que o governo construiu no Parque central da cidade nos anos 60. Eles queriam tocar essa música e, na última hora, receberam um "pedido" para que tocassem outra para não ofender ao governo. Mas eles se recusaram a tocar e ainda botaram a boca no trombone.

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