Antes de escrever mais um epitáfio sentimental sobre Steve Jobs, pergunte-se: de onde saiu o seu bonito iPad e o meu lustroso iMac? Das mãos de gente que faz, em média, 120 horas extras mensais, trabalhando uma semana de 70 horas, ou seja 10 horas por dia o ano inteiro sem domingo ou feriado. O salário mensal: 250 reais, dependendo ainda da produtividade. Longe de casa, 300.000 trabalhadores comem e dormem na fábrica. Resultado: uma epidemia de suicídios. A fonte é o jornal CONSERVADOR Daily Telegraph...
Não se trata aqui de demonizar Steve Jobs ou a Apple, mas de dar contorno mais bem definido ao "milagre chinês" [não é por acidente que uso aqui o termo que se aplicou ao Brasil de Médici] e sua relação íntima com o "milagre tecnológico" da economia supostamente "pós-industrial" da . Somos um organismo esquizofrênico, de um lado caminhando a passos firmes no século XXI e do outro chafurdando no atoleiro do século XIX.
Não se trata aqui de demonizar Steve Jobs ou a Apple, mas de dar contorno mais bem definido ao "milagre chinês" [não é por acidente que uso aqui o termo que se aplicou ao Brasil de Médici] e sua relação íntima com o "milagre tecnológico" da economia supostamente "pós-industrial" da . Somos um organismo esquizofrênico, de um lado caminhando a passos firmes no século XXI e do outro chafurdando no atoleiro do século XIX.
Comments
Na verdade, O presidente da Foxconn para as Américas - que eu conheci pessoalmente - admite que a taxa de suicídios é alta entre os funcionários chineses, mas, se serve de consolo, garante que ela está abaixo da verificada na população da China em geral. Se é verdade eu não sei, mas aqui no Brasil eles tem uma política de superar todas as exigências da legislação trabalhista e oferecer aos seus funcionários condições de trabalho e benefícios que estão acima da média praticada no país.
É claro que Jobs, Apple, e Foxconn não são santos. São apenas capitalistas se rendendo (por que hoje não há outra forma de produzir a preços competitivos) àquilo que o comunismo chinês tem de "melhor" para oferecer.
A Apple poderia boicotar o trabalho escravo chinês e produzir seus iPads na suécia, Canadá ou mesmo nos EUA pra ajudar a diminuir essa fila da sopa aí? Podia, claro. Mas e se a Samsung e a Motorola não fizessem o mesmo?
Tudo bem, e se todas as empresas decidissem praticar o capitalismo com consciência social e boicotassem juntas o trabalho escravo chinês? O próprio governo da China produziria seus tablets genéricos a 10 reais, inundaria a 25 de março com essa bosta e, como diria Raul, Vamo ver agora quem é que vai guentar! Ninguém aguenta. Mesmo que os milionários do mundo fossem todos bonzinhos (e não esses gigantes Piamãs que só vivem para roubar as Muiraquitãs do povo oprimido) não haveria alternativa se não "se render" sim. Você tem um iPad? Se rendeu. Tem uma porcaria de celular com teclinha e sem câmera igual ao o meu? Se rendeu também.
Enfim, o que eu estou querendo dizer desde o início é que se o governo chinês decidiu que o ápice do sucesso do comunismo é fazer com que o seu povo carregue no lombo a sociedade de consumo do resto do mundo inteiro não há nada que Apple, Foxconn ou quem quer que seja possa fazer. E não adianta a gente ficar tirando essa onda de burguês culpado que compra tudo o que é produzido na China (porque TUDO é produzido na china) e depois sai por aí reclamando das injustiças sociais, da crise econômica e da fila da sopa pra limpar a consciência.
Por mais que eu ache o trabalho escravo uma coisa horrível (e acredite: eu acho!), se eu não puder fazer nada pra mudar a realidade da china, como por exemplo parar de comprar... tudo... ou protestar na praça vermelha, então o melhor que eu tenho a fazer é me conformar mesmo. Não vou assumir a culpa - nem mesmo um pouquinho - pelas fidaputagens feitas pelo governo da China. Ainda que um operário chinês tivesse cortado os pulsos e sangrado até a morte em cima do meu Compaq made in Foxconn, eu não assumiria. Essa culpa também não é do Steve Jobs ou da Apple. É única e exclusivamente da porcaria de governo tirânico que comanda aquele país.
PS2: Não entendi como a fila da sopa e as ditaduras árabes vieram parar no meio dessa história.
A Foxconn foi criada em Taiwan na década de 70. Hoje ela tem um milhão de fun... escravos na China e 300 mil funcionários em outros 13 países do mundo (6 mil no Brasil). É isso aí, nos países capitalistas ela tem funcionários. Escravos é só na China mesmo.
Abraço.