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Poesia minha - Um primeiro rascunho


Arquivo de Técnicas Corporais

O corpo é um instrumento universal:
instrumento universal do nirvana,
instrumento universal da infâmia,
massa adestrada em cultivo sutil
por outras mãos, braços, lábios,
por olhos outros, outras bocas,
outros colos, outros corpos
que reproduzem uma tecnologia
que é pertencimento duro e gentil.

Todo corpo portanto tem mais de um dono.
Todo corpo portanto pertence a um lugar
chamado mundo,
chamado país,
chamado família,
chamado eu.
Todo o corpo está contido
em quarenta e quatro paredes de carne
de onde só sai quem já não é,
e esse corpo todo está contido
nas quarenta e quatro paredes
invisíveis desse lugar
de onde não se sai nunca:
o corpo pode sair do seu lugar
mas o lugar não sai do corpo jamais.

Todo corpo carrega uma tecnologia
que fez dele quem ele é, cegamente.
Podemos compará-lo a uma semente,
princípio e resultado da vida inteira;
coordenação fina de nervos e músculos
produzindo primeiro a nós mesmos,
célula a célula dentro de outro corpo
e depois o mundo como o conhecemos
que expandimos a patadas,
que esculpimos e polimos
esculpindo e polindo muito mais
a nós mesmos.

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