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Rio de Janeiro, 1863: Paraíso da Natureza, Inferno dos Homens


[esse me soa como um desses posts longos que ninguém lê, por isso vou parti-lo em duas partes]



O escritor chileno Francisco Bilbao, importante ensaísta do século XIX e um dos pioneiros no uso do termo América Latina no sentido que reconhecemos hoje em dia. Em 1863 ele escreveu um belíssimo apelo à juventude brasileira “A la Juventud Brasilera”.
A primeira parte do texto é um primor de apuro retórico. Começa com uma longa evocação à beleza natural da cidade e depois a contrapõe ao inferno lá constituído pelos homens:

 “La transparencia del mar y de los cielos, la variedad incesante del paisaje aumentada por la locomoción del pasajero que en alas del vapor penetra en el seno de la gran bahía para ser abrazado por los potentes brazos de Circe, la hechicera naturaleza que acomoda en ese punto sus encantos, y la exaltación del espíritu contemplativo deslumbrado, sobrepujada por la belleza realizada, hacen que la entrada a Rio sea la entrada a la región de los ensueños.

¡Oh recuerdo, oh tesoro! Visiones sublimes de belleza, no pasáis, no desaparecéis: ¡vivís en el pensamiento como imagen de las nupcias de la naturaleza y del espíritu! ¡Y yo me acuerdo! De pie sobre el puente, y mucho antes de la aurora, como un centinela que espía el menor ruido o el menor movimiento de las formas, acechaba la esperanza de lo que iba a ver: la entrada a Rio de Janeiro.”
[…]
“¡Oh genio de la tierra, arquitecto sublime del universo, qué templo de tu bondad has elevado!­¡Oh aglomeración de todos los amores, y de todos los ensueños, de todos los perfumes, de todos colores, de todas las figuras, de todos los encantos del cuerpo, de la imaginación y del espíritu!, ¡oh armonía de los elementos, oh tierra de Rio, tú debes ser la mansión de la virtud y de la felicidad sobre la tierra!

¡No! ­¡La tierra del Brasil bendecida por el cielo, para ser un paraíso terrenal, ha sido convertida por los hombres en infierno!

¡La esclavitud existe!”





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