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Prazer e Dever

O prazer estético em si não é necessariamente subversivo porque não tem ideologia. Mas também o prazer estético em si não existe fora do laboratório. Fora do laboratório o prazer estético tem ideologia. Sempre. Mas esse prazer estético não é necessariamente subversivo. Ele pode ser até reacionário. O mesmo pode ser dito sobre o prazer sexual. O mesmo pode ser dito sobre qualquer prazer. O princípio do prazer pode nos levar a coisas maravilhosas ou a coisas atrozes. Não devíamos nem demonizá-lo nem santificá-lo. 

Do outro lado da mesa, o princípio da realidade tem um imenso potencial para reprimir a felicidade dos outros e promover a felicidade perversa daqueles que sentem prazer em estragar o prazer ou mesmo em provocar o sofrimento alheio. A raiz desse potencial está precisamente na noção de realidade, no caso uma realidade produzida por um discurso que sempre serve a um poder que sempre pretende nos controlar, nos conter, nos formar. 
  
A respeito dessa relação entre poder e discurso, permitam-me uma terrível confissão. Terrível porque sei que São Foucault é objeto de adoração de muita gente. Terrível porque adoro Foucault também. Mas então me perdoem a blasfêmia: quando leio aquelas descrições sobre o Poder-Todo-Poderoso, me lembro das descrições que os Jesuítas faziam do Espírito Santo. Suponho que a trindade no caso seja composta pelo pai-discurso, o filho-instituição e espírito santo-poder. Tome um sermão de Vieira sobre a trindade, faça as substituições e receba grátis um texto de Foucault escrito originalmente em português setecentista. 

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