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Sobre Svetlana Alexievitch

Svetlana Alexievitch é o quinto Nobel Russo.

Li trechos em inglês dos seus livros e achei muito interessante. A entrevista dela que eu li, sinceramente, não acho que acrescente muito. Dois trechos:

"Vivemos um ambiente de banalidades. Para a maioria das pessoas isso basta. Mas como é que você se comunica? Como é que você arranca esse verniz de banalidade? Há que fazer as pessoas descer até as profundezas delas mesmas."
e
"Não acredito que 'novos fatos' possam nos ajudar a compreender as coisas."

Mas também escritor não tem que necessariamente ser bom de entrevista, mas sim bom de livro. Frequentemente falar eloquentemente sobre a própria obra não implica numa obra em si com o mesmo interesse. E Alexievitch tem um método de trabalho muito interessante. Pelo que eu entendi, é assim:

1. Ela escreveu quatro livros sobre momentos significativos da história recente da Rússia no século XX: a segunda guerra mundial, Chernobyl, a guerra no Afganistão.

2. Ela então parte para as entrevistas com pessoas qaue viveram esses eventos, grava essas pessoas, transcreve as conversas e escreve a partir das transcrições, à lápis, lendo em voz alta como se ensaiasse um monólogo.

3. As intervenções na voz da autora são reduzidas ao mínimo, normalmente fornecendo laconicamente nome, idade e profissão do entrevistado.

4. Cada livro representa as vozes de mais ou menos cem pessoas num total de 300 a 500 entrevistas, ficando pronto em entre cinco e dez anos. Entre dez ou vinte dessas pessoas são escolhidas para ser os pilares do livro, e essas pessoas podem ser entrevistadas até 20 vezes.

PS. Apesar dela recusar veementemente o rótulo de jornalista, uma breve olhada nos sites de língua inglesa indica que a sanha rotuladora já decidiu. Pelo menos para a maioria das pessoas.

Comments

Muito interessante mesmo. Eu já pensei várias vezes em fazer algo a partir de entrevistas. Quem sabe um dia.
Muito interessante mesmo. Eu já pensei várias vezes em fazer algo a partir de entrevistas. Quem sabe um dia.
Ela parece que inventou esse método a partir do trabalho de outros escritores que faziam história oral na Rússia. Só que ela abandonou quase que completamente a participação de um narrador/autor que é comum nesse tipo de narrativa. Acho que sairia algo muito interessante se você tentasse, Sabina. O engraçado é que tem gente, inclusive no mundo das letras russas, que acha que ela não é bem escritora por causa disso, mas na descrição do métido fica claro que ela tem que trabalhar muito.
Um dia vou tentar sim.

Agora estou experimentando um romance em terceira pessoa, já é um grande passo. ;)

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