Trechos de entrevista de Sérbio Buarque de Holanda que foi publicada postumamente em Novos Estudos CEBRAP N.° 69, julho 2004
Separei aqui umas coisas que me interessam e que provavelmente os historiadores não querem muito saber:
"... não gosto da linguagem afetada. Gosto da linguagem seca, nítida, precisa, que é um traço característico dos autores modernistas. Mas não acredito que essa convivência com o modernismo tenha me ajudado a escrever bem no sentido gramatical. Às vezes tenho de ir ao dicionário para ver como se escreve uma palavra. Quem me ajudou muito foi João Ribeiro, crítico literário do Jornal do Brasil. Era um grande conhecedor de gramática, e com freqüência eu ia até ele tirar dúvidas de português. Ele dizia que o mais importante não era a correção, mas a eufonia. Achei esse conselho tão bom que guardei até hoje."
"Lewis Hanke me disse que para escrever um livro sobre um país novo bastaria ter vivido nele por três meses: "Três meses ou mais de dez anos", ele dizia."
"... os jornais pagavam artigos de crítica literária. Ou seja, fazer crítica histórica não adiantava nada. Então comecei a comprar livros, a ler. Fiz um esforço danado. Em 1941 fiz uma viagem aos Estados Unidos a convite do State Department e trouxe uma verdadeira biblioteca para me enfronhar nisso. Quando eu estava com falta de dinheiro, era a crítica literária que me ajudava. Eu mandava textos para publicar em São Paulo, Rio, Minas, no Norte. Até que dava um dinheirinho..."
"não sou muito rápido para escrever. É por isso que digo: sou mau escritor porque tenho dificuldade para escrever. Não sou um escritor nato."
"... nos Estados Unidos passei por experiências curiosas. Lá a competição por nota era incrível. Lembro de um aluno que fez um trabalho sobre o modo como o Brasil aparecia na imprensa russa. Ele aprendeu russo, fez uma boa pesquisa e apresentou material inédito, mas não sabia nada do Brasil. Por isso dei nota B+. Ele não ficou satisfeito, arrumou um pistolão para vir reclamar comigo. E precisei explicar que se mudasse a nota dele teria de mudar as de todos os outros. De modo que esse tipo de coisa acontece muito no estrangeiro também."
Separei aqui umas coisas que me interessam e que provavelmente os historiadores não querem muito saber:
"... não gosto da linguagem afetada. Gosto da linguagem seca, nítida, precisa, que é um traço característico dos autores modernistas. Mas não acredito que essa convivência com o modernismo tenha me ajudado a escrever bem no sentido gramatical. Às vezes tenho de ir ao dicionário para ver como se escreve uma palavra. Quem me ajudou muito foi João Ribeiro, crítico literário do Jornal do Brasil. Era um grande conhecedor de gramática, e com freqüência eu ia até ele tirar dúvidas de português. Ele dizia que o mais importante não era a correção, mas a eufonia. Achei esse conselho tão bom que guardei até hoje."
"Lewis Hanke me disse que para escrever um livro sobre um país novo bastaria ter vivido nele por três meses: "Três meses ou mais de dez anos", ele dizia."
"... os jornais pagavam artigos de crítica literária. Ou seja, fazer crítica histórica não adiantava nada. Então comecei a comprar livros, a ler. Fiz um esforço danado. Em 1941 fiz uma viagem aos Estados Unidos a convite do State Department e trouxe uma verdadeira biblioteca para me enfronhar nisso. Quando eu estava com falta de dinheiro, era a crítica literária que me ajudava. Eu mandava textos para publicar em São Paulo, Rio, Minas, no Norte. Até que dava um dinheirinho..."
"não sou muito rápido para escrever. É por isso que digo: sou mau escritor porque tenho dificuldade para escrever. Não sou um escritor nato."
"... nos Estados Unidos passei por experiências curiosas. Lá a competição por nota era incrível. Lembro de um aluno que fez um trabalho sobre o modo como o Brasil aparecia na imprensa russa. Ele aprendeu russo, fez uma boa pesquisa e apresentou material inédito, mas não sabia nada do Brasil. Por isso dei nota B+. Ele não ficou satisfeito, arrumou um pistolão para vir reclamar comigo. E precisei explicar que se mudasse a nota dele teria de mudar as de todos os outros. De modo que esse tipo de coisa acontece muito no estrangeiro também."
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