Uma pessoa morre e uma vida se completa, e o que resta para um documentarista disposto a fazer um filme-biografia? Filmes caseiros ou de eventos públicos, fotos, cartas e um punhado de documentos impessoais. Uma matéria prima de imagem e voz muitas vezes bem parca e pobre, principalmente antes da internet e das redes sociais. E o que mais lhe resta além disso? O depoimento de amigos, da família e de companheiros de trabalho. No caso de alguém que morreu recentemente, essa fonte pode ser rica e gerar horas e horas de depoimentos gravados - e a testemunha ganha importância quase tão grande quanto a do personagem principal. O papel do biógrafo/documentarista então é usar essa matéria insuficiente e geralmente de segunda mão para reconstruir para o seu público a presença viva da pessoa morta. Nisso reside sua arte, seu talento e seu estilo.
Todas as cartas de amor são Ridículas. Álvaro Campos O Tietê é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia, mas o Tietê não é mais sujo que o ribeirão que corre minha aldeia porque não corre minha aldeia. Poucos sabem para onde vai e donde vem o ribeirão da minha aldeia,
que pertence a menos gente
mas nem por isso é mais livre ou menos sujo. O ribeirão da minha aldeia
foi sepultado num túmulo de pedra para não ferir os olhos nem molhar os inventários da implacável boa gente da minha aldeia, mas, para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
a memória é o que há para além do riberão da minha aldeia e é a fortuna daqueles que a sabem encontrar. Não penso em mais nada na miséria desse inverno gelado estou agora de novo em pé sobre o ribeirão da minha aldeia.
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