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10 Proposições Simples sobre o filme Coringa

Coringa:

um filme duro, sobre uma vida dura em tempos duríssimos;

um filme sobre o abandono e o ressentimento;

uma fantasia de vingança com um fundo de revolta social;

um mergulho nos delírios mais perversos e mais líricos da doença mental;

uma exploração interessante de um tema que me fascina: a agressividade entre ator e platéia subjacente a qualquer ato de comédia desde os palhaços do circo;

uma vontade de fazer com que as pessoas entendam que as explosões de violência mais "absurdas" fazem sentido no contexto de violência psicológica, física, financeira, estética e social a que estamos sujeitos todos os dias;

um grito de revolta dos desajustados, os sem-graça, os sem-grana, os sem-casa, os feios, os derrotados, os vermes, os fodidos que a nossa sociedade produz e rejeita, como se fossem lixo;

um filme sobre a família como uma sequência de pesadelos: da mãe inválida e iludida à mãe louca que permitiu que o filho [adotado] sofresse abusos bárbaros nas mãos de um namorado, de um pai fictício a uma dura rejeição que se pontua com um soco;

um filme que tem que voltar à NY dos anos 70 para chegar ao terceiro mundo porque o que se desenha na NY de hoje é um terceiro mundo muito mais perverso, mais próximo das fantasias higienistas de um episódio de Black Mirror do que de Gotham;

um filme que se sustenta completamente em um único ator e seu personagem; todo o resto [inclusive a ponta de Robert de Niro] é fácil de esquecer. Brilham no filme a voz, o dorso, o estômago, os braços, as mãos, a boca e os olhos de Joaquin Phoenix. Sem ele o filme desaparece.






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