Certa vez conheci um Vinícius de Moraes. Ele era só um pouco mais alto que eu, tinha os cabelos muito curtos, castanhos claros, em cachos pequenos bem colados na cabeça. E olhos miúdos, cor de mel. Nós topamos um com o outro diante da porta. Ele quase sorriu tímido quando tocou o interfone. Passou um tempo que não medimos, mas ninguém lá dentro atendeu. Vinícius de Moraes apertou de novo o botão. Eu e ele em silêncio ansiávamos por uma resposta e ela não vinha. Então, eu ficava agitada me perguntando se seria mesmo ali. A placa dizia que sim, afinal, nela estava escrito Hostel Cidade Maravilhosa e era aquela a rua da Glória. Não havia perigo de engano, é verdade. Acontece que eu sou de dúvidas e de sempre me perguntar e conferir. E era por isso que eu conferia endereço no papel amassado quando alguém abriu e saiu e,... Voltou meio corpo pra dentro e gritou: - Fulano, eles chegaram! Depois - era uma jovem bem jovem com traços orientais, sorrindo displicente como se faz em qualquer lugar aos clientes -, escancarando a madeira azul apontou para dentro e nos disse: - pode entrar, gente! Nós entramos.
Por dentro, a porta que se fechava nas nossas costas era verde e a jovem oriental tinha ido embora. Estávamos no início de um pequeno corredor de paredes azuis, eu e Vinícius de Moraes, lado a lado. Havia um balcão ovalado onde o Fulano se meteu e nos entregou, a cada um, um retângulo em papel-cartão e uma caneta Bic. Naturalmente, eu e Vinícius de Moraes começávamos a responder por escrito as perguntas que o papel-cartão nos fazia e... Fulano explicava que estava almoçando e que era por isso que tinha demorado a nos atender. Pedia desculpas, estava mastigando ainda e era magrelo, muito alto e moreno o Fulano. Bem. Eu sou hipermetrope, e foi graças a isso que descobri que estava na Cidade Maravilhosa com Vinícius de Moraes: usando meus superpoderes de águia bisbilhoteira para ler o nome que ele escreveu no papel enquanto Fulano falava. Acabamos. Entregamos ao Fulano nossos dados rabiscados. Minha letra é um tanto ilegível - é porque sou difícil de decifrar - e o Fulano queria confirmar se meu estado de origem era mesmo Minas Gerais. Eu respondia que sim e Vinícius de Moraes finalmente sorriu sem receio, dizendo: - Eu também!
Comments